14/05/2005

A PAIXÃO A POLÍTICA E OS CARNAVAIS

 

Mário Sérgio Mello Xavier*

Indaga1@hotmail.com.br

14/05/2005

 

Algumas verdades sobre a paixão não são segredo para ninguém: a paixão enlouquece; nos tornamos cegos e ousados. Capazes dos gestos mais inusitados visto pelo ângulo de terceiros, que não sejam parceiros dessa trama, de quem ama, somos, simplesmente, ridículos. E o exemplo está por todos os lados. Basta prestar um pouco de atenção, até mesmo, quem diria, na própria eleição; que, a rigor, não deixa de ser um grande exemplo de paixão e de obsessão com todos os seus condimentos: sedução, interesses disfarçados, namoros forçados, infidelidade, traições, gestos e atitudes inusitadas. Casamentos nunca antes sonhados.

Mãos afagam e apedrejam com a mesma naturalidade, tudo em nome do amor maior: o Poder, com letra maiúscula, o maior de todos, o fura bolo, o cata-piolho. Todos de olhos nas mãos do novo rei: que indica, que nomeia, que esconde e protege. Que faz promessas, que lembra ou que esquece. Vai depender do tempo que durar o casamento. Do tempo que suportar a união feita pela via da coligação. Bom apenas para os amigos do rei.

Onde o amor será negociado então? Sei que o amor do interior, aquele do coronel e do fazendeiro, que oferece os filhos por dinheiro: o casamento interesseiro. Não importa a vontade do eleitorado, as razões são de ordem prática; não necessariamente, e raramente, por amor.

Assim acontece também no país do Carnaval do desperdício, da fantasia bem feita, dos carros alegóricos, que ilude e diverte a todos na passarela das avenidas e dos palanques. Lá de cima, os destaques mostram sua força e seu canto é belo e atraente. Como os seus corpos nus, brilhantes e coloridos; pregados de serpentinas e de adereços. Estrelas azuis grandes estrelas vermelhas...Estrelas de todas as cores. O corpo é sedutor e enlouquece, distrai e apetece o eleitorado.

Porém, felizmente ou infelizmente, para uns e outros, não dura a vida inteira, apenas o suficiente até a próxima quarta-feira, quando a tristeza bota o seu bloco na rua. A realidade surge com o sol da manhã, já não se tem tanta fartura; já não se tem tanta certeza do alimento na mesa. A passarela está em silêncio, quem te viu e quem te vê. Hora de guardar a fantasia. Hora de relembrar na memória.

Passado algum tempo é hora de trocar de fantasia, o carnaval fora de época que se inicia. O carnaval do segundo turno das eleições. O povo, mais uma vez, é endeusado. Conclamado a participar da festa e escolher o melhor bloco, a melhor fantasia, o melhor enredo, a melhor comissão de frente, a melhor bateria, a melhor composição e a mais bela harmonia. O povão vai bem de arquibancada, poucos privilegiados em destaques vai à avenida. Como diz a canção, ou dizia, “hoje o samba saiu, procurando você. Quem te viu, quem te vê”.

O PT, PSDB, PP, PL, PTB e PMDB e tanto outros... O fulano, que foi presidente, apedrejado freqüentemente tornou-se o namorado e amigo daqui pra frente. O cicrano, da prefeitura, abandonado no passado, (que assustava criancinhas) tão querido no presente! Venham todos os foliões, todos no mesmo refrão, pierrôs estão chorando pelo amor da Colombina, no meio da multidão.

Mais de mil pessoas na avenida, alguns com uma máscara negra que encobre o rosto e não deixa olhar direito para o que acontece à sua esquerda. A mão da noiva está sendo oferecida, ao centro-esquerdo, sem qualquer constrangimento.

Esqueçamos nossas diferenças, nosso ideal contraditório, diferente, cantemos a mesma canção agora.

Hoje, tudo é provisório, a “medida” é permanente, a notório que a casa está em festa e ninguém pode ser barrado. Vamos todos juntos, do mesmo lado, na mesma estrada, Você, meu amigo de fé, meu irmão camarada. Pra frente, Brasil! Salve a seleção! E o mico-leão dourado! A ética e a moral deixa pra depois. Mais vale uma eleição na mão, do que um povo ignorado. Em processo de extinção, abaixo a realidade, o faz-de-conta é quem embala e adormece a grande maioria da população.

Portanto, continue apaixonando-se cegamente e caso se empolgue um pouquinho exagerando na bebida neste carnaval, não vai valer reclamar da ressaca.

 

 

Acadêmico do Curso de Direito.

 

       

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