BANALIZAÇÃO SEXUAL E MACHISMO
Dídimo Heleno Póvoa Aires*
29/11/2004
Quando
eu tinha quinze anos, a empregada de minha mãe, que já era uma mulher
experiente, convidou-me para fazer sexo com ela. Até então, embora não
fosse mais nenhum menininho, contentava-me com os banhos demorados e via
passivamente as espinhas brotarem no meu rosto. Aquela negra luzidia,
bonita, de pernas torneadas, nádegas fartas e respiração ofegante,
deixou-me inebriado. Parecíamos cachorros no cio, e todas as noites corríamos
para a cama, escondidos dos meus pais.
Hoje,
os meninos e meninas quase sempre começam a vida sexual com 12 ou 13
anos, ou menos. E não são convidados por alguém com experiência. Há
até uma música aí que diz mais ou menos assim: “beijo na boca é
coisa do passado, a moda agora é namorar pelado”. Nada contra o sexo,
muito pelo contrário. Mas também não se pode desprezar um beijo na
boca, carícias e, pelo menos, esperar algum tempo até o início de uma
vida sexual ativa com o parceiro ou a parceira. O sexo até vai ficar mais
gostoso.
Se
o sujeito não tentar ir para a cama com a moça já no primeiro dia, ele
é careta, babaca ou, então, poderá ser tachado de “mole”,
“devagar” ou gay. A
banalização sexual é fato incontestável na juventude de hoje. Outro
dia, fui a uma festa de adolescentes e um conhecido meu, de mais ou menos
vinte e cinco anos de idade, apontou-me algumas garotas que já haviam
transado com ele e com todos os seus amigos. Pareciam bonecas, pele
lisinha como bunda de bebê. Tudo bem, dizem que sexo é remédio pra
pele, mas não dava para acreditar que aquelas meninas possuíam uma vida
sexual tão ativa e variada.
Com
meus parcos trinta e três anos de idade, sinto-me totalmente careta,
ultrapassado, carola. Olho para essas menininhas, tão novinhas e
bonitinhas, cheirando a leite, e sinto pena. Fico pensando se ao menos
usam camisinha. Fiquei sabendo, pelo mesmo garanhão, que quase sempre não
usam. Cheguei à melancólica conclusão de que o mundo não vai acabar
num incêndio provocado por uma chuva de meteoros, ou através de uma
grande guerra. Vai acabar de aids.
E
os pais, meu Deus? Como ficam os pais? De algumas garotinhas dessas eu até
os conheço. Muitos fingem que não vê, outros não enxergam mesmo; só
caem na real quando as filhotas avisam que estão grávidas. Aí o choque
é grande, o sentimento de culpa é maior ainda e sofrem se perguntando
onde foi que erraram. Deve ser duro para um pai, imaginar que sua filhinha
do coração, criada com tanto mimo, possui uma vida sexual bem mais ativa
que a sua.
Como
não há muito o que fazer, já que o sexo é exposto diariamente em nossa
cara, através dos comerciais de TV, das novelas e dos filmes, ao menos
poderiam evitar a gravidez precoce. É triste ver crianças parindo crianças.
Os filhos nascem e geralmente são criados pelos avós, pois os
pais-meninos não possuem a menor condição, tanto emocional quanto
financeira, de manter uma família. Quem arca com a conseqüência é a
sociedade, obrigada a suportar eventuais desajustados no futuro.
Ainda
não tenho filhos e estou me preparando psicologicamente para tal. Penso
que a única arma que resta é o diálogo, aliado à camisinha. No mais é
torcer e rezar, para que não aconteça uma gravidez precoce. Ou, se mesmo
assim acontecer, que ao menos o pai da criança seja decente. Por decente,
entenda-se: educado, responsável, estudioso, trabalhador e honesto. O
problema é que um rapaz com esse perfil dificilmente despertará
interesse nas mocinhas. É bom que os pais abram os olhos, pois não são
mais as empregadas experientes que fazem sexo com seus filhos; são as
filhas dos seus amigos. E as suas filhas com os filhos deles.
*Dídimo
Heleno Póvoa Aires – advogado e escritor.