Síndrome da desunião
DÍDIMO HELENO PÓVOA AIRES*
13/09/2006
Todo ano eleitoral é a mesma coisa: Dianópolis dá aula de desunião. Uma cidade do seu porte conseguiria, sem qualquer dificuldade, eleger um deputado estadual e, até mesmo, contribuir em muito para eleger um federal. Mas os interesses individuais ou partidários estão acima dos da coletividade. Temos quatro candidatos da cidade disputando vaga na Assembléia Legislativa, neste ano.
Dificilmente algum se elegerá. E a dificuldade é por uma razão óbvia: um tira voto do outro, principalmente porque todos têm vínculos familiares, direta ou indiretamente, entre si. O pobre eleitor se vê em situação difícil. Na verdade, a rigor, Dianópolis nunca teve um deputado genuinamente dianopolino. Abílio Wolney, que foi eleito deputado estadual, ainda por Goiás, nasceu em Taipas. Manoel Lima, que também foi deputado, nasceu em Almas. Izidório Oliveira, nasceu em Taguatinga. Hagahús, deputado algumas vezes, nasceu em Patos de Minas. José Salomão, atual prefeito e filho da cidade, assumiu por um curto período, mas como suplente. Tudo bem, sei que me chamarão de “xenófobo”, “bairrista”, no entanto nenhum filho legítimo do lugar conseguiu, até hoje, ser eleito. É fato, e ponto.
Mais uma vez, temos grande chance de manter a tradição. Num Estado como o nosso, ainda incipiente, não é pouca coisa ter um representante na Assembléia. Isso conta muito, visto que o deputado se torna uma voz importante que velará pelos interesses locais. E outro “fenômeno” pode ser detectado com facilidade em Dianópolis: em período de eleição alguns “líderes” políticos se tornam “cabos eleitorais” de candidatos forasteiros. Em troca de alguns míseros trocados ou de promessas de emprego ou de outras barganhas menos nobres, se embrenham com unhas e dentes nas campanhas de alguns desses e conseguem tirar votos preciosos dos candidatos da terra.
Nem é preciso repetir a importância que tem a cidade para o Estado e, principalmente, para a região Sudeste. E também nem se pode dizer que não existam bons nomes para concorrer às eleições. Nomes de peso sempre existiram, o que falta, mesmo, é união, desprendimento, vontade política e visão coletiva. A esperança, como sempre, repousa na força da juventude. Infelizmente, muitos desses jovens decepcionaram e continuam decepcionando, cometendo os mesmos erros, que são repetidos por gerações, arraigados que estão aos vícios de outrora.
Nosso país passa por um dolorido processo de desmantelo político. Se por um lado serve como ótimo laboratório de maturidade eleitoral, por outro revela o quanto ainda somos ingênuos nas nossas escolhas. É certo que não se deve levar tudo isso ao extremo, acreditando que somente os filhos da terra seriam bons representantes. A história mostra que não é bem assim, já que tivemos grandes políticos, filhos de outras paragens, que souberam exercer com retidão o seu mister. Pensar dessa maneira seria o extremo do provincianismo. Mas é inegável que uma cidade que conta com bem mais de cem anos, poderia eleger um filho seu, dá-lhe apenas uma chance, uma oportunidade para mostrar que pode fazer alguma coisa. Acho que isso não é pedir demais.
E a culpa é dos políticos, não do eleitor. São eles que não se entendem, são eles que oferecem opções demais, candidatos demais. A grande verdade é que a maioria está preocupada com o seu umbigo, com os seus próprios interesses. Quem iria se importar com os destinos de uma cidade do interior do Tocantins? Neste mundo de cão, mais vale garantir um bom emprego, um bom salário. Esse negócio de “representantes filhos da terra” soa piegas para esse tipo de gente. São assuntos para articulistas como eu, bons para sair em jornal. Na prática, não passa de teoria.
*Dídimo Heleno Póvoa Aires – advogado.