Ávidos por status

 

 

 

DÍDIMO HELENO PÓVOA AIRES*  

 

03/12//2006

 

Segundo o Dicionário Aurélio, status é a “situação, estado ou condição de alguém ou algo, especialmente perante a opinião das pessoas, ou em função do grupo ou categoria em que é classificado, e que pode lhe conferir direitos, privilégios e obrigações”.  É em busca desse tal reconhecimento perante os outros, ou perante a sociedade, que muitas pessoas são capazes de tudo, ou quase tudo. Em nossa cultura capitalista, ter dinheiro dá status, fazer parte de determinadas associações dá status, obter fama dá status, e assim por diante.

 

Em nome dessa condição, muitos são os que ingressam em profissões que “dão status”, sem a mínima vocação para tanto. A área jurídica é prolífica na espécie: inúmeros almejam o cargo de juiz não pela importância da magistratura, mas pelo status que isso possa lhes trazer. Como resultado, somos obrigados a suportar os detentores da propalada “juizite aguda”, da qual são acometidos os despreparados, soberbos e orgulhosos incipientes da referida carreira, que utilizam a nobreza do cargo para auferirem reconhecimento e proveito próprios. Esses homenzinhos desfilam com seus narizes empinados, afastando, através da arrogância, qualquer um que possa desvendar-lhes a incompetência escondida por detrás da epidérmica capa da empáfia.

 

Muitos são os que, na impossibilidade de adquirir riqueza material, opta pelo status. É possível, sim, que o sujeito não seja rico, mas goze de reconhecimento social: e esse é o caso dos que ocupam cargos de relevância, por exemplo. Servidor público rico só existe em quatro situações: ganhar na loteria, patrimônio obtido por esforço próprio e anterior ao ingresso na carreira, herança ou corrupção.  Nenhum cargo público, por mais relevante que seja, é capaz de trazer fortuna ao seu ocupante. Traz estabilidade, conforto e segurança, mas não riqueza. Os servidores ricos que existem por aí (e são muitos!) estão enquadrados, sem exceção, em uma das quatro alternativas acima citadas, principalmente na última.

 

Desde os tempos de escola, somos vítimas dos aproveitadores, dos que se utilizam do esforço alheio como forma de galgar míseros degraus. Os conhecidos “trabalhos em grupo” dão aos oportunistas a condição de “subirem” no conceito da classe através do esforço alheio. Enquanto a minoria trabalha, esses apenas usufruem do status, tendo seus nomes inseridos no rol dos que efetivamente se esforçaram.

 

E esse vício é repetido pela vida afora. Um exemplo típico pode ser encontrado nas associações, as que mais abrigam os ávidos por status. Muitos querem fazer parte de qualquer uma delas, desde que isso possa lhes trazer evidência. Contudo, como acontece na escola, apenas uns poucos trabalham de verdade, enquanto outros usufruem do “status” de fazerem parte de uma dessas entidades. E esse tipo de gente não tem o mínimo constrangimento em se postar como verdadeiro abnegado, participante ativo e colaborador incansável.

 

Normalmente, nas associações, instituições e entidades diversas, embora seja o presidente a gozar de maior status, nem sempre é o que mais trabalha. Muitos desses que labutam incansavelmente, sonham em ocupar, um dia, o mais elevado cargo, em busca do tão sonhado reconhecimento. Ao atingirem o patamar almejado, apenas usufruem da posição, entregando-se ao ócio e à importância que somente a hipocrisia social é capaz de lhes oferecer.

 

Nós, fracos humanos, estamos sempre em busca ou de dinheiro ou de status. Obtendo dinheiro, não é necessário buscar status, posto que ele (o dinheiro) por si só, traz o reconhecimento social, sendo de menos relevância se o sujeito é, ou não, honesto, ético ou moralmente aceitável. Na falta de suporte financeiro, obtêm-se status de diversas maneiras, mas todas elas exigem hipocrisia, uma pequena dose de cinismo e um bom círculo de relacionamento, além de vestimenta adequada, gestos aristocráticos e a imprescindível presença em colunas sociais, de vez em quando. O resto fica por conta da criatividade e da tendência que as pessoas têm de venerar os impostores e os calhordas de classe.

 

Paralelo a tudo isso, existem os homens aproveitáveis, os bons servidores públicos, os dedicados membros das associações diversas, aqueles que realmente trabalham e cumprem com o seu papel, embora jamais sejam reconhecidos. De certa forma, esses também adquirem algum respeito, e são apontados como honestos, dedicados, inteligentes e cultos (ou apenas ingênuos). Porém, esse tipo de gente serve tão-somente para sustentar os ambiciosos, os que serão verdadeiramente considerados pelo corpo social. A uns o ônus, a outros o bônus, eis a nossa triste realidade.

 

 

*Dídimo Heleno Póvoa Aires – advogado.

 

       

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