Turismo barato

 

 

 

DÍDIMO HELENO PÓVOA AIRES*  

 

04/03/2007

 

 

Um dos programas preferidos por todos nas férias é, sem dúvida, viajar. A maioria, como se sabe, fica em casa não por opção, mas por falta de condições financeiras, já que os gastos com passagens, alimentação e hospedagem são para poucos afortunados. 

 

Mas há outro meio, bem mais em conta, de se fazer viagens inesquecíveis. E não estou falando de maconha ou outras drogas. Estou falando de livros. Através deles, podemos empreender verdadeiras odisséias pelo mundo afora, com a vantagem de que sempre voltamos mais cultos dessas empreitadas.

 

Eu, por exemplo, conheço boa parte do mundo. Da Paris da época da Revolução Francesa sei detalhes, que me foram apresentados por Charles Dickens, no seu “Um Conto de Duas Cidades”. No mesmo livro, conheci até as ruas de Londres, com o seu famoso fog. Mas a Grã-Bretanha pode lhe ser apresentada sob um outro ponto de vista, através de Oscar Wilde em “O Retrato de Dorian Gray”. E através dos livros não se conhece apenas a parte física das cidades, mas também as pessoas, até mesmo o que elas pensam.

 

A Rússia eu conheço muito bem, desde os tempos dos czares, através dos meus guias Tolstoi e Dostoievski. Moscou e São Petersburgo são familiares a mim tanto quanto Palmas. Os Estados Unidos também me foram apresentados por inúmeros livros, de Truman Capote aos romances de Sidney Sheldon. Através dos convites de Jorge Luis Borges, Gabriel Garcia Márquez e Mario Vargas Llosa, conheci um pouco da Argentina, Colômbia, Peru e parte da América Central, respectivamente. Também fiz turismo em Portugal, através dos livros de José Saramago. Conheço pouca coisa da Ásia, África e Oceania, mas tenho planos de comprar, em breve, algumas passagens na primeira livraria que avistar. Se tiver curiosidade a respeito do Oriente Médio, viaje até lá pegando carona na Bíblia ou nos livros de V. S. Naipaul. Para a Europa existem inúmeros caminhos disponíveis em qualquer biblioteca, de Thomas Mann a Agatha Christie.

 

Andei muito por esse mundão afora e até pelo inferno, na companhia de Dante Alighieri, em “A Divina Comédia”. Considero-me um homem viajado. Obviamente, também conheço bem o Brasil. Para conhecer o Sul, recomendo Érico Veríssimo (“O Tempo e o Vento”); nosso sertão pode ser apresentado por Euclides da Cunha (“Os Sertões”) e Guimarães Rosa (“Grande Sertão: Veredas”); sua viagem pelo Sudeste pode ser feita a bordo de Machado de Assis (Rio de Janeiro, sem violência), Carlos Drummond de Andrade (Minas Gerais) e Mário de Andrade (São Paulo). Ninguém pode lhe apresentar melhor a Bahia do que Jorge Amado. Outros estados do Nordeste podem ser conhecidos através de escritores como Tobias Barreto, Graciliano Ramos, Patativa do Assaré, Augusto dos Anjos e outros tantos. Para conhecer o Centro-Oeste, comece por Bernardo Élis, que também escreveu sobre minha cidade, Dianópolis, hoje localizada no Tocantins, na obra ficcional “O Tronco” ou em “Quinta-Feira Sangrenta”, de Osvaldo Póvoa . O nosso querido Norte pode ser conhecido por meio dos inúmeros escritores que compõem as Academias Tocantinense e Palmense de Letras.   

 

Se, porém, tiver preferência em conhecer o Brasil como um todo, visite “Casa-Grande e Senzala”, de Gilberto Freyre, “O Povo Brasileiro”, de Darcy Ribeiro, “Retrato do Brasil”, de Paulo Prado, “Raízes do Brasil”, de Sérgio Buarque de Holanda, entre outros. São viagens inesquecíveis, que você pode fazer sem sair de casa. Ou melhor, sem sair do seu confortável sofá, de sua cadeira preferida ou da sua cama quentinha. E o custo é bem menor.

 

Muitos são os turistas que vão a lugares maravilhosos e não conseguem ver mais do que Shopping, praias e boates. Pelos olhos dos escritores você consegue enxergar muito mais, por um ângulo nunca antes visto, com lentes poderosíssimas. O turismo proporcionado pelos livros é tão abrangente que mesmo sem estar de férias é possível conhecer ambientes fictícios, como a cidade de “Macondo”, localizada na genial cabeça de Gabriel Garcia Márquez, que a descreveu em “Cem Anos de Solidão”. Um dos lugares mais interessantes que visitei nos últimos tempos.

 

*Dídimo Heleno Póvoa Aires – advogado.

 

       

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