Morrer jovem

 

DÍDIMO HELENO PÓVOA AIRES*

24-05-2009

  

A morte é o momento mais espantoso, inexplicável e triste da vida. Já que não somos imortais só deveríamos morrer bem velhos. Morte não combina com juventude. Recentemente perdi um amigo de infância, Afrânio Dantas, no vigor dos seus parcos 35 anos de idade. Afra, como carinhosamente o chamávamos, deixou um filhinho de 3 anos, Lucas.  

Meu amigo morreu por conta de um dos maiores assassinos de nosso tempo: o trânsito.  Quando fui à casa de seus pais, onde foi velado, fiquei observando o sofrimento das pessoas, principalmente dos familiares, e de novo me veio à mente a velha pergunta: por quê? A morte, essa incógnita devastadora, nos deixa impotentes, desnorteados e em busca de explicações. Nesses momentos, os que possuem fé se apegam à esperança de uma vida eterna. Numa hora dessas, em que as perguntas são órfãs de respostas, é o que resta como tábua de salvação.     

Eu que lhe havia prometido uma visita em Tocantinópolis, onde morava, fui surpreendido com a notícia e imediatamente me veio o sentimento de culpa: por que não fui visitá-lo antes? Diante da morte, somos todos servos. O único remédio é o tempo. Somente ele arrefece a dor da perda.  

Afra tinha muitos amigos. E quase todos estavam ali, despedindo-se dele, solidarizando com seus irmãos Ana, Seno, Cido e Cláudio, além de sua jovem esposa, Rosivan. E quando cheguei à minha casa e olhei para os meus dois filhos, lembrei-me dos seus pais, seu Zé da Noite e D. Livinha. A morte de uma pessoa jovem vai de encontro à ordem natural das coisas; afinal os pais não deveriam ter de suportar a perda de um filho.  

Acabado o sepultamento, eu e alguns amigos fomos a um bar que Afra gostava de frequentar, em Dianópolis, e lhe dedicamos um brinde, olhando uns para os outros com aquela enorme interrogação no rosto, sem respostas, sem palavras, sem consolo. Na cabeça, a imagem do amigo, o som de sua voz ecoando em nossos ouvidos, só interrompido pelo espocar de uma tampa de garrafa sendo aberta, pelo farfalhar dos galhos de uma árvore e pelo burburinho que começava a tomar forma, enquanto as pessoas procuravam se acostumar com o fato de que Afra não chegaria mais tarde. 

A morte vem, sem marcar hora ou dia, arrancando-nos do convívio as pessoas que     amamos e deixando-nos assim, perplexos, inconformados, doentes de saudade. O poeta Pablo Neruda ensinava que estar vivo exige um esforço muito maior do que o simples fato de respirar. Afra viveu poucos anos, mas com a intensidade necessária; sua vida não foi apenas respiro. Foi feita de suspiros, alegrias, tristezas e realizações. E nos deixou Lucas, sua continuidade, sua extensão...           

 

*Dídimo Heleno Póvoa Aires advogado, membro das Academias Palmense e Tocantinense Maçônica de Letras.

 

       

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