CERTEZAS E INCERTEZAS
Por DÍDIMO HELENO PÓVOA AIRES*
09-07-2009
Tive o privilégio de assistir à palestra do renomado paleontólogo francês, Michel Brunet, durante o Seminário Internacional promovido pela UFT, aqui em Palmas. Aliás, foi um evento inesquecível, que contou inclusive com a presença do grande sociólogo Edgar Morin, estrela da festa.
Brunet é o responsável pelo achado do crânio de hominídeo mais antigo do mundo, batizado com o nome de Tomai. Em outras palavras, ele disse: O Deus bíblico não existe. Falando assim soa um tanto quanto chocante. Mas é isso mesmo. Ao terminar a apresentação, virei para uma senhora que estava ao meu lado e disparei: “Então é isso. Resumindo, o Deus da Bíblia não existe”. Ela olhou espantada para mim e respondeu: “Não foi isso que ele disse. Deus me livre!”. Confesso que tive vontade de rir da reação da mulher, mas contive-me. Na verdade, ele disse sim.
O homem que estava ali, doutor em ciências naturais, é simplesmente o autor do achado que coloca por terra, de uma vez por todas, a tese do criacionismo. E ele é humilde o suficiente para dizer que sua única certeza é a incerteza. Ao contrário dos religiosos, que são arrogantes o suficiente para dizer que foram criados por um Deus e que a Terra é a única habitada nessa imensidão do universo, os cientistas sérios só afirmam aquilo que podem provar. E o crânio de Tomai não é uma invenção, mas um fato.
O bispo irlandês James Ussher (1581-1656) afirmou que a criação do mundo ocorreu na noite que antecedeu o dia 23 de outubro de 4004 a.C, um domingo, no calendário Juliano. Ele até calculou, com precisão impressionante, o dia da expulsão de Adão e Eva do paraíso, que teria ocorrido em plena segunda-feira, no dia 10 de novembro de 4004 a.C. E o assombroso Ussher também disse que Noé encalhou sua arca numa quarta-feira, no dia 5 de maio de 2348 a.C, no monte Ararat. Fazendo as contas, chega-se à conclusão de que tudo foi criado por Deus há pouco mais de 6 mil anos.
Se o crânio do hominídeo que Brunet encontrou tem por volta de 7 milhões de anos, é de se concluir que já existiam outros homens quando Deus criou Adão e Eva, como provam Tomai e Luzia (outro crânio de ancestral encontrado e que viveu antes do livro de Gênesis). Por tudo isso, o paleontólogo francês, ao contrário do que afirmou minha colega de seminário, disse, sim, que o Deus bíblico só existe na imaginação das pessoas. Aliás, a tese do criacionismo é tão esdrúxula que muitos religiosos a descartam.
O grande dilema é admitir que viemos, nós e os macacos, de um ancestral comum. Qual o problema? Como ensinou Brunet, geneticamente somos apenas 1% superiores a eles. Se levarmos em conta a aparência e o comportamento de muitos de nós, perceberemos que tal percentual é até elevado.
Quando o cientista diz que sua certeza é a incerteza, e o faz com total responsabilidade, ele quer dizer que a ciência ainda não conseguiu provar que Deus não existe e que a teoria criacionista, conforme é exposta em Gênesis, foi por terra com o achado do crânio de Tomai. Aliás, os próprios dinossauros já haviam colocado uma pá de cal por sobre a teoria bíblica. A ciência já provou que somos produto da evolução e que continuamos evoluindo. Essa é uma certeza. A incerteza paira na seguinte questão: existe uma força superior, a qual podemos chamar Deus, que tenha permitido a evolução das espécies ou o início de tudo que existe? A esse questionamento nem o próprio Brunet pode, ainda, responder. E fé não é o meio apropriado para solucionar o enigma.
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