Texto de Casimiro Costa do manuscrito "Minha História"


(504#6) significa que uma palavra não foi entendida na página 504 linha 6.

TEXTO EXTRAIDO DO MANUSCRITO "MINHA HISTÓRIA" DE CASIMIRO COSTA DAS PAGINAS 503 A 534.

DIGITADO POR JOSÉ PÓVOA AIRES NETO

  

                        Desaparecido por morte o grande chefe Cel. José Leal, ficaram os da sua família em acordo com os demais elementos, vivendo normalmente congregados debaixo da orientação política do Cel. Abílio Wolney que era nosso representante na Câmara Estadual apesar de morarmos em outro município mais que tínhamos verdadeira ligação com São José do Duro por laços familiar e administração política.

                        Este, desavendo-se com alguns chefes políticos na Capital do Estado, nos colocou em franca oposição com o governo e ele em verdadeira divergência com as autoridades locais de São José do Duro, sedo do município de sua residência.

                        Vendo eu, a situação melindrosa em que as coisas marchavam (não por nós de Conceição) e sim pelos desacordos e caprichos das autoridades de São José do Duro contra Abílio Wolney, onde eu tinha maior parte da minha família, resolvi ir a Capital do Estado, ter um entendimento político com o Governador neste sentido, e, foi assim que em março de 1918 para ali segui, com o meu genro Coquelin Ayres leal, o qual tendo o mesmo interesse quanto eu(?), (504#6) lá (504#6) boas relações, especialmente com a família do próprio governador. Lá chegando fomos bem recebidos, e, depois de exposto o fim que ali nos levava atendidos. Depois de tudo convenientemente acertado, para uma mediação da coligação do nosso elemento que era valioso, com os do governo, recebemos as instruções e o modo de agir e as devidas recomendações do Governador para as autoridades locais, tendo a certeza de que tudo  seria(?) conseguido e feito de forma em continuar em paz, por quanto, os principais elementos com que ele Abílio (504#17) eram amigos particulares das autoridades e meus cunhados e amigos com os quais tive o devido entendimento e aprovação para minha viagem, inclusive a do pai dele que me davam carta branca neste sentido de uma coligação. Não foi assim, porém, que antes de minha chegada do retorno poucos dias ele Abílio, não suportando mais obrigou ao Coletor Estadual e o Juiz Municipal, como procurador da parte de um inventário, que vinha sendo processado sobre desacordo e caprichos de ambos, a assinarem a concordata e julgamento do mesmo, por cujo proceder as autoridades julgando-se desmoralizadas por um ato de força e violência, dias depois retiraram-se para uma fazenda no vizinho município de Conceição apelando para o governo pedindo retorno e garantias.

 

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                        Surpreendido com tão desastroso acontecimento em os (?) que haviam concordado com minha viagem apesar de vermos tudo (5053) encaminhado para os fins de harmonia e paz, tivemos que nos conformar com a situação e aguardar os acontecimentos das providências já tomadas pelas autoridades, e eu(?) devolver ao Governador as cartas de recomendação de que fui portador para suas autoridades e correligionários, o agradecendo, pois, nada mais podíamos fazer diante da consideração e ligação que tínhamos com seus velhos pais marchando portanto, tudo para o caminho do ostracismo. E, foi assim, que em dias de outubro de 1918, chegava em Taipas município de Conceição onde se achavam as autoridades, um comissão Estadual , Juiz de Direito, Promotor e Escrivão, acompanhados de um contingente de 60 praças com seus devidos comandantes, a qual trazendo as autoridades para reposição teriam que abrir o devido inquérito, o que fizeram segundo consta em segredo de Justiça e em separado da Justiça Local, muito propositalmente para demonstrar o fim oculto de suas preensões, quanto ao modo de execução. Tão logo foi sabido da marcha da Comissão e Forças para esta Vila, a família Wolney se retirou para sua fazenda Açude daqui distante 4 léguas, ficando interditas as comunicações entre aqui e lá onde como amigo e da família passei com minha mulher um mês e como nada havia de positivo na decisão em uma e outra fração(?), voltamos para nossa casa em Conceição para entregar uma partida de bois que eu havia contratado. Dias depois da permanência e  alojamento da expedição o seu chefe mandou convidar ao Dr. Abílio Farias, genro de Abílio Wolney, para como médico que era vir fazer tratamento em soldados da força que se achavam doentes. Ele aceitou o convite e veio, e, como eram diversos(?) os doentes tinha que vir constantemente receitá-los e trata-los, pelo que, devido a distância e as contínuas seduções do chefe da expedição para o retorno da família a suas casas nesta Vila, resolveram vir para a fazenda “Buracão” que, além de melhores acomodações ficava apenas distante desta Vila 7 Km e, ali permaneceram em posição de vigília e garantias de gente armada isto é, apenas dentro do local da fazenda.

                        Muito propositalmente e enganadoramente os chefes da expedição diziam e faziam contar que apenas tinham vindo  repor aquelas autoridades e garanti-las quando fosse preciso, mais que, pelo que viam, nada havia para esta posição pelo que lhes deviam voltar para suas casas e tratarem dos seus afazeres comuns, pois que as autoridades estavam instruídas para apenas agirem no cumprimento dos seus deveres, no que de agora em diante fosse necessário, pois quanto ao passado, nada havia apurado para crime(?), e, muito propositalmente para iludir, a Comissão dava e mantinha os seus expedientes público, em separado e sem assistência das autoridades locais, até fazendo constar de censuras quanto ao proceder delas, das quais nada aceitava e nem dava lugar de intimidades. Só com a chegada da Comissão em Taipas e depois das devidos entendimentos do Juiz Chefe dela com as autoridades, Juiz Municipal e Coletor ali

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estacionados é que o Promotor da Comissão Dr. Francisco de (508#2) Mandacaru Araújo, soube do fim especial da mesma, o qual, não sendo para o fim que convidaram, e, para agir dentro da Lei, pediu ali mesmo a sua exoneração, pois que, diante do que acabava de lhe ser revelado pelo chefe, não o acompanharia mais, ao que, o Juiz impondo-lhe guardar reserva(?) o disse não o poder dispensar antes de chegarem ao ponto terminal que era sede de São José do Duro, para onde o conduziram debaixo de ordem e sobre vigília.

                        Aqui chegando, foi posto em custódia em casa separada com guardas nas portas da frente dos fundos da casa. Ninguém podia saber da razão daquela sua detenção, pois as poucas visitas que recebia (507#14) Vila estava entregue a força pública, era em presença dos guardas ao que ele se limitava apenas em dizer que não lhe convindo(?) mais fazer parte da Comissão, havia solicitado sua demissão, assim me  o disse quando o visitei. O Juiz encaminhou o seu pedido de demissão por positivo para Barreiras e o pedido da nomeação do seu substituto, o que dentro de um mês mais ou menos chegou, tendo vindo a nomeação para o Coronel Deocleciano Nunes de Natividade. Sendo o Dr. Mandacaru dispensado, o chefe da Comissão mandou leva-lo em Arraias, para de lá seguir para Goiás, mas(?) concluído(?) os planos para os maus acontecimentos para com uma família da qual ele tem boas informações, ali ficou aguardando o desfecho premeditado, tanto que de lá me escreveu uma carta em Conceição onde (507#31) achava, que, sem perca de tempo, mandasse avisar aos coronéis Wolney, pai e filho, para

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                        Que, nunca estivessem juntos, pois que o plano da Comissão, era elimina-los a um só tempo pois temiam que, a ficada de um, procuraria a vingar a morte do outro, cuja carta mandei-lhes por portador seguro.

                        Avisado que foi o Cel. Deocleciano veio e assumiu o cargo e o exercício, ficando pois a Comissão completa para a ação a qualquer hora oportuna.

                        Achando, pois as coisas neste pé, era preciso procurar por em execução um plano de iludir e trair, pois que no de confiança em seus retornos para suas casas na sede da Vila não tinha ainda sido aceito, e, quanto ao ataca-los  em sua fazenda não era possível dado o reforço de homens ali conservados para defesa. E, foi assim nesta situação que o Juiz de Direito chefe da Comissão Dr. Celso Calmom Nogueira da Gama, procurou por em execução o seu plano diabólico. Achava-se bastante enfermo na fazenda um neto do Cel. Wolney e quando menos se pensava e esperava, às 9 horas da manhã, pára na frente de um agregado da fazenda dois cavaleiros que são: o Juiz de Direito e um Oficial da Polícia seu ajudante. Ali muito propositalmente, demoraram o suficiente para serem reconhecidos e que estavam desarmados e chagar ao conhecimento do Coronel Wolney, por pessoa que seguramente o iria avisar, o fim da sua presença ali, que seria uma visita ao doente e conhecer ao Coronel como disseram aos moradores em sua chegada. Em vista das ordens e a disciplina existente, não agiriam senão em defesa, pelo que, reconhecido a presença de dois homens

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e desarmados um piquete que era mantido nos fundos da referida(?) casa procurar uma vez daqui ocultar-se, e, assim foram fazendo os demais, quando da sua aproximação da porta da casa da fazenda o Coronel deu ordem para todos os homens ali existentes em guarda retirarem-se com suas armas para as dependências da fazenda, casas de oficinas de cana e mandioca, as quais irão justamente para os fundos e que não ficavam(?) a vista(?) (509#10) que foram a porta, foram recebidos pelo Cel. Wolney, Abílio, seus genros, Major Candinho Nepomuceno e Major Janjão Leal, João Correia e Cel. Luiz Leite que ali se achava como advogado quando preciso fosse e o Dr. Abílio Farias o único que lhes era já conhecido como médico que os atendia constantemente.

                        Depois dos devidos cumprimentos e apresentações, o Dr. Celso disse ao Cel. Wolney e ao Major Janjão pai do enfermo, ter ido ali fazer uma visita ao doente e conhecer pessoalmente a ele e aos da sua ilustríssima família, por quanto até agora só tinha tido a honra de conhecer o Dr. Abílio Farias e mesmo verbalmente dizer-lhe o fim da sua missão e os meios para que tudo chegasse ao ponto normal, sem lutas e nem quebra de dignidade, para o que ele estava certo (509#26) acordo com ele, tudo resolveria, pois, pelo que sabia e via ser ele um homem verdadeiramente trabalhador construtor do progresso e mantenedor da ordem. Depois deste diálogo, o Cel. Wolney os convidou a esperarem pelo almoço, o que de bom grado aceitaram, tendo o Coronel providenciado desarrearem os seus animais

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E os recolheu na estribaria para o devido trato, assim como ordem para a família mandar tratar do almoço. Depois de servido algumas bebidas finas veio o café costumeiro das recepções acompanhado com grande variedade de massas, pois a família Wolney em qualquer parte que estivesse as tinha em grande e variadas qualidades, mais ainda (510#7) como ela ali estava, no meio dos seus recursos e recebendo diariamente visitas dos seus amigos. À 1 hora da tarde foi servido o grande e variado almoço, com finos vinhos e boa cerveja do que sempre tinham em reserva para as ocasiões precisas.

                        O Dr. Celso não perdeu uma ocasião de mostrar-se admirador da sua organização de trabalho, organização familiar e disciplina governamental chegando mesmo a dize-lo que se em cada município do Estado tivesse um homem com a organização e trabalho dele Cel. Wolney, o Estado seria o duplo do que é, em valor e materialmente, pois sabia que ele e seus amigos mantinham neste município um grande celeiro que abastecia os seus vizinhos e um grande rebanho de criação bovina a mais selecionada e tratada da região, os que os colocava em posição de destaque e independência. Disse mais saber, vir ele mantendo grande numero de homens armados em posição de defesa, mais ele ficasse certo e confiado, não existir esta necessidade e se ele também ali estava com grande número de soldados, foi por não conhecer os homens e as causas(?) na realidade do que veio tratar e sim levado por informações exageradas, mais que, ele confiasse na sua autoridade  dispensasse o seu pessoal e voltasse para sua casa que tudo seria resolvido pelos

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                        Meios (511#1) de direito, ordem e harmonia, sem quebra de dignidade para nenhuma das partes e que ele voltava certo de que ele acreditando o faria como e que assim se dando, ele pedia permissão para continuação de suas visitas, até que ele se transferisse para a Vila. E, foi assim neste ambiente de cordialidade que às 4 horas, depois do café das 3, eles retornaram a Vila, acompanhados por Candinho, Janjão e Cel. Luiz Leite até mais do meio da estrada.

                        Não é demais dizer que lhe sendo apresentado os principais da família, D. Mariazinha senhora do Cel. Wolney e D. Ana Custódia senhora do Major Janjão, a elas foi rogado(?) pelo Dr. Celso, voltarem para as suas boas acomodações de suas casas no que ele se comprometia do que lhes era devido e merecido, pois o que havia na realidade não era mais do que simples desconfiança de quem tinha o dever de zelar e garantir a paz e a tranqüilidade das famílias do lugar, mais ainda sendo ele também um chefe de família, sabendo assim avaliar o incômodo e o desconforto em que se achavam. E, foi neste ambiente de promessas e confiança que a noite o Cel. Wolney, convocando os de sua família e amigos ali presentes resolveu no dia seguinte pela manhã despachar todos os que ali vinham mantendo para sua garantia e aos seus vaqueiros e empregados para irem para suas residências cuidarem dos seus afazeres que vinham quase abandonados de há tempos, ficando ali apenas ele, seus filhos e genros e o Cel. Luiz Leite.

                        Logo que se estabeleceu este regime de confiança, os seus empregados de casa começaram a freqüentar a Vila e o Dr. Celso disfarçadamente a pretexto de perguntar pelo estado de saúde do rapaz e dos mais da família, ia pondo-se a par do  movimento deles

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e da  fazenda, especialmente por intermédio de uma rapariga empregada, que tinha ligações com soldados e ela talvez sem maldade proposital ia informando-o de tudo, pois ele bem sabia como e de como fazia as suas averiguações ficando sabendo que na fazenda não tinha mais ninguém de fora e nem guarda e vigília. O Coronel, saudoso da sua vida dos campos e caçadas, disse na fazenda um dia antes, que no dia 23 à madrugada, seguiria para uma caçada em sua fazenda açude, do que na noite da véspera, foi sabedor o Dr. Celso que procurava uma ocasião oportuna para por em prática a sua ação de traição e maldade e foi assim que a meia noite de 22 de dezembro fez seguir para a fazenda um grande contingente de praças sob o comando do Tenente Ulisses o oficial que tinha ido com ele seguramente para conhecer das posições do local. Sabiam que a viagem era partindo da frente da casa para um extenso e limpo vaquejador de mais de 200 metros, pelo que deviam colocar um piquete no fim do vaquejador para dar o sinal da sua aproximação, pois que, pelo sinal que seria dado pela corneta(?) quando de sua aproximação, ele teria que voltar em direção da casa, em cuja ocasião os dois piquetes que se achavam colocados em cada lado em distância de não serem pressentidos, atacaria em sua chegada a porta a qual por certo devia ser trancada pela pessoa que assistisse(?) a sua saída, como de fato o foi. Os (512#29) que tudo observavam de longe, aguardando o sinal convencional da corneta para a aproximação da porta(?).

                        Os animais que se achavam na estrebaria às 3 horas da madrugada eles observaram chegar na porte e serem arreados, às 4 viram o Coronel sair de dentro da casa, montar e partir com um companheiro e poucos instantes depois ouvirão o sinal da corneta que se achavam no piquete da frente dar o sinal de sentido e a mesmo tempo o tropel dos cavaleiros que vinham voltando em direção da casa ao que eles dos lados avançaram chegando ao tempo em eles cavaleiros também chegaram a porta em cuja ocasião dispararam-lhes diversos tiros a queima-roupa o derrubando de cima do animal muito (513#10) e já no chão lhes deram 13 facadas e outras em o seu camarada que também havia caído morto, em cuja ocasião já ali estavam todos reunidos.

                        Incontinenti retiraram os cadáveres da frente da casa para um lugar que não fosse presenciado e dali os despacharam para a Vila em redes que já haviam trazido para o fim, depois de terem saqueado o seu cadáver, tendo ele num cinto (513#17) 30 contos de réis e mais 5 nos bolsos, seu relógio de ouro, esporas de prata e suas armas, ficando o restante da força com a casa verdadeiramente cercada e vigiada para que não saísse pessoa alguma, intimando aos moradores para que não abrisse uma só porta enquanto não ordenassem, o que fizeram depois do clareando dia afim de melhor proceder o saque e verificar o paradeiro de Abílio Wolney objeto do maior interesse. Quando a abertura das portas, foram vasculhadas todas as dependências e objetos que pudesse ocultar uma pessoa, não tendo porém encontrado Abílio. Arrecadaram todos os animais existentes na fazenda e arreios, fazendo montar quantos foi possível e despachado emissário a fim de ver se o encontravam pelos redutos e vizinhanças da fazenda. Não tendo, porém o encontrado e nem notícias,

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Retiraram-se para a Vila a fim de darem solução ao chefe, da sua desastrada empreita.

                        Abílio por uma circunstância milagrosa tinha escapo da vistoria ocultando dentro de um grande caixão de depósito de farinha o qual também tinha sido examinado e apesar de ser um cômodo de pouca luz supõe-se que tenha sido poupado pelo oficial que fez a revista deste cômodo. Depois da retirada da força, pelas 10 horas da manhã, ele avisado retirou-se com o seu genro João Correia por dentro do canavial que começava ao pé do terreiro(?) e seguindo pela mata foram se ter na fazenda Açude, onde eles já o tinham procurado pela manhã.

                        Ali munindo-se de animais, seguiram para a fazenda Jardim, já do outro lado do Rio Palmeiras no município de Taguatinga, onde tinham todos os recurso precisos e de lá sem perda de tempo munindo-se de animais e pessoal para suas retiradas para o Estado da Bahia, em Formosa do Rio Preto, onde foi a procura de seu amigo Abílio Araújo, grande chefe de gente(?) armada com prática de lutas.

                        Em poucas horas depois do acontecimento foi tudo sabido em círculo de 2 a3 léguas pela força em turmas a procura de Abílio, pelo que, os amigos do morto, Coronel Benedito Póvoa e Major João Rodrigues vieram das suas fazendas pedir licença ao Juiz de Direito para sepultarem o cadáver do Cel. Wolney, o que lhes foi concedido, o que feito, dirigiram para  a fazenda Buracão onde se acharam em verdadeira penúria toda a família.

                        Compadecidos daquele miserável estado daquela família seus amigos os conduziram para a Água Boa, residência do Major João Rodrigues.

                       

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                        Passado aquela primeira (515#1), o Juiz de Direito despachou diversos emissários para todos os lados a fim de saber o rumo que Abílio havia tomado, o que tão logo soube com certeza, seguiu com seu Escrivão e o Promotor Cel. Deocleciano Nunes para Natividade, dizendo ir aliciar homens para reforço da força, sendo que ele Juiz e Escrivão nem lá passaram dizendo ao Cel. Deocleciano que a fim de não perder tempo seguia para Porto Nacional onde tinha telégrafo, a fim de pedir providências ao Governo sendo que, ele queria era escapulir como o fez, ficando a força sob o comando do Tenente Brito, oficial mais antigo da Expedição. Com a requisição e intimação de elementos civil aliciaram diverços do Município e outros vizinhos, perfazendo uma força de cento e tandos homens, que de prontidão mantinham dentro da Vila. De lá da fazenda Água Boa onde se achavam, seguiram: para Barreiras onde tinha sua família o Dr. Abílio Farias, para Conceição do Norte o Cel. Luiz Leite onde residia e o Major Candinho para uma sua fazenda em Natividade.

                        Passado os dias que julgaram suficientes para o retorno de Abílio foram intimados e conduzidos para dentro da Vila como reféns, os da família Wolney, João Rodrigues e Benedito Póvoa, aquele com dois filhos menores um de 14 e outro de 16 anos e este com um de 14 anos, um seu(?) parente e amigo íntimo e um rapaz de viajar de confiança.

                        Na Vila, a família Wolney foi poste numa casa de sua residência com guardas dia e noite e os demais, João Rodrigues, Benedito os filhos destes, o amigo e o razar de Benedito, Major Janjão Leal e Wolney Filho, detidos no quartel com a força.

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                        Benedito Póvoa, viúvo de pouco tempo, tendo diversos filhos pequenos, sobre a vigília apenas de uma pessoa da família obtinha licença para ir visita-los na fazenda a 12 Km de 2 em 2 dias, isto acompanhado por dois soldados armados com se fosse um criminoso, e, João Rodrigues que também tendo grande família, mais isto por esta estar administrada por sua mulher não tinha licença, veja-se pois, qual era a situação de angústia destes homens e famílias.

                        Tão logo, foi cientificado ao chefe, a aproximação de Abílio Wolney, vindo do Estado da Bahia com grande Força, mandaram  (516#12) em um miserável tronco, posto em uma das dependências do Sobrado que estava servindo de quartel, Major João Rodrigues e dois seus filhos, Major Janjão Leal e um filho, Cel. Benedito Póvoa e um filho o seu amigo Messias Camelo que o havia acompanhado, o seu empregado e companheiro e Wolney Filho, cujo moço por suas delicadas maneiras e costumes era incapaz de ofender a ninguém. Na prisão em que se achavam, lhes era fornecido pelas famílias, grande soma em dinheiro para procurarem ver-se com ele, obtinham suas liberdades, o que apenas serviu, para desfalque aos seus filhos.

                        Chegado Abílio em sua fazenda Buracão. Ali falhou(?) um dia para descanso do pessoal e organização do modo de agir.

                        E, foi assim que, no dia 16 de janeiro de 1919, as 10 horas da manhã, ele estabelecia o seu Quartel General a 500 metros da Vila, distância que isolava a vista das ruas pela mata.

                        Esta Vila naquela ocasião, era composta apenas por uma grande praça com quatro ruas que

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a circundava. Ele foi informado de que toda a família a exceção dos homens que se achavam presos, estavam em casa do seu pai, a qual se achava em uma esquina do quadro, dos lados do sul e o quartel dos presos a 100 metros mais ou menos em sua confrontação na esquina do Norte.

                        No interesse de ver se salvava as famílias e os presos, ele ordenou ou fez o ataque em massa em todos os flancos, deixando livre o lado do poente(?), para que eles não vendo dali também partir fuzilaria, procurassem lugar por aquela parte, abandonando aqueles dois lugares, mas não foi assim que, tão logo eles presenciaram ou viram o movimento de Abílio em tão pequena distância, executaram a chacina dos presos com tiros na cabeça de cada um e verificação se estavam mortos, os sangrando com punhais, o que foi executado pelo Tenente Ulisses e um companheiro não tendo também o feito com as famílias, por que quando na casa passaram já as pressas(?) em fuga, ela se achava toda dentro de um grande quarto com a porta e janelas guarnecida por uma enorme pilha de adobes postas na hora da confusão e  elas(?) sem mais tempo, pois o quartel já se achava tomado, procuravam fugir pelos fundos, quando o cabo de guerra Roberto Dourado entrava pela frente da casa.

                        Ao tomarem o quartel já estava tudo consumado, todos presos mortos  e os retardatários(?) em fuga disparada pelo ponto fraco dos lados do poente(?), ficando apenas debaixo do cerco um grupo de 6 casas dos lados do nascente, que, ligadas uma a outra, e com aberturas para comunicação, mantinham serrado

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tiroteio pelas trincheiras abertas a propósito, pelo que, os sitiantes que também atiraram, eram entrincheirados ou em distância de não serem atingidos.

                        Tomada e garantida a casa onde se achavam as famílias, procuraram reforçar o cerco do reduto onde se achava uns 30 homens inimigo entrincheirados.

                        A ferocidade e a rapidez com que foi feito o ataque, em plena 10 horas de um dia límpido, assombrou a força e seus aliados, pois em poucas horas a não ser o reduto que se achava debaixo do cerco estavam desocupados. Não procuraram perseguir os fugitivos neste dia, pois sendo grandes os mesmo e bem armados e municiados, podiam tentar um outro ataque, pelo que os restantes deste dia, passaram em guarnição e posição de defesa e sustentáculo do reduto ainda ocupado. À meia noite, a fim de evitar ser visto o lamentável e horrendo quadro pelas famílias é que foi retirados os cadáveres dos mártires do quartel onde se achavam e conduzidos para o acampamento onde se achava Abílio e seu Estado Maior, e ali pela manhã seguinte foram sepultados em uma só sepultura para o fim preparada, o que ficou designado por a sepultura dos nove mártires.

                        Não tendo eles voltado à noite, foi despachado algumas turmas para sondarem o destino que tinham tomado, sendo que, ainda foram encontrados alguns retardatários e desnorteados. A noite deste dia 17, com a volta das turmas de sondagem, ficou verificado que quase todos, correndo para um só lado tinham descido a serra, onde dividiram em dois grupos, um para Conceição e outro para Natividade.

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                        Era intenção do pessoal de Abílio, no dia seguinte em pleno dia liquidarem o reduto que continuava guarnecido, dando mostra da sua existência por tiros por todos os lados, saídos pelas bocas das suas trincheiras, o que não se realizou porque a meia noite, em completa escuridão, caiu um farto temporal e aguaceiro, o que, eles aproveitando da ocasião e oportunidade, saíram ao mesmo tempo pelos fundos formando um quadrado, atirando para todos os lados, marchando em acelerado, para que transpondo a trincheira dos inimigos alcançassem as capoeiras que se achavam em pequena distância. Foram felizes, porque hora em que marchavam,, tinha somente naquela direção dois homens, pois os mais tinham ido ao acampamento proverem-se de munições mesmo assim, estes dois abrindo passagem ao cortejo (519#18) atirando em distância e sem visibilidade deram baixa em dois, que no dia seguinte foram encontrados, assim mais um fuzil, sabres e uma toalha contendo dinheiro amarrado em uma das suas pontas, e eles, aproveitando o resto da noite e, como tinham pessoas conhecedoras (519#23) amanheceram na margem do Rio Palmeira o qual transpuseram para o Município de Taguatinga, de onde os praças seguiram para a Capital em companhia de um oficial seu comandante, uns civis, tomaram os rumos que lhes era conveniente em outros municípios.

                        Neste período de luta inglória, houve diversas baixas de lado a lado, especialmente do lado de Abílio, tanto pelos 9 presos chacinados e como lutavam contra uma força entrincheirada

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não sendo maior o prejuízo, porque os homens como verdadeiros loucos, marcharam para cima das trincheiras que eram as casas e ao chegarem na frente iam pondo abaixo as portas e arrancando, com o que eles iam escapulindo assombrados em disparada pelos fundos ou frente conforme o lado do ataque. As forças eram mais ou menos iguais da polícia com os aliados e recrutados e de Abílio com seu pessoal.

                        Passado a (520#9) e tudo organizado, Abílio despachou diversas turmas para Conceição a fim de ver se ainda encontrava algum inimigo, com ordem, porém, de não transpor os limites do Duro e Conceição. Lá chegados, não mais encontraram nenhum pois quando dali correram, os que por lá passaram foi de passagem para Arraias ou Palma, e foi então nesta ocasião que Abílio me mandou um portador na fazenda Roncador, município de Palma, para onde havia me retirado com minha família, desde a ocasião do assassinato do Cel. Wolney, pois tendo família grande, não podia e nem devia ficar em um meio em que só se esperava a conflagração a qualquer hora, dizendo que eu voltasse para minha casa, por já estar tudo garantido e debaixo do seu domínio. Voltei, não para minha casa em Conceição, mais para seguir para Barreiras no Estado da Bahia, pois o mais daquela data em diante não me servia. E foi assim que passando por fora da Rua por saber esta estar cheia de jagunços, fui pernoitar adiante 2 quilômetros em casa do meu velho amigo e compadre Herculano Bandeira, pois também a minha fazenda, que se achava para a frente em 500 metros estava sendo acampamento deles. Ao fazer o desvio para sair na estrada que segue da Vila para a fazenda encontrei uma turma de jagunços que iam dali para o acampamento em minha fazenda com as garupas cheias de porcos e cabras matados na Vila a qual se achava quase despovoada. Avaliem qual não foi a minha impressão, diante daquele quadro de desordem barbaria(?) e pilhagem, por homens indisciplinados e afeitos ao caso(?). No dia seguinte pela manhã outra surpresa: Ia passando pela frente da fazenda do meu amigo, onde eu me achava, uma grande (521#13) de gados de criar de toda sorte, debaixo da vozerio(?) e aboio natural de sua condução, acompanhado pelo clamor dos berros e gemidos da criação quando separados a procura do filho ou mãe e dos companheiros. Perguntando a um dos vaqueiros que veio a porta pedir água para beber, que gado era aquele, ele me respondeu: serem da fazenda de Leopoldo Helmano que eles haviam apanhado e iam levando. Foi outro choque maior ainda, com o que mandei apanhar os meus animais, seguindo com minha família para minha fazenda Engenho, já em caminho para Barreiras e distante dali 6 léguas onde ia arrumar a minha viagem para o Estado da Bahia. Lá, quando eu menos esperava apareceu 6 jagunços dizendo terem ido para me garantir. Eu, além(?) de saber não precisar de garantias, mais ainda me enojava(?) o contato com aqueles homens, pelo que, no dia seguinte pela manhã, mandei os meus vaqueiros com eles entregar-lhes 6 matalotagem boas para os lados da (521#33) de onde eles

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de lá mesmo seguissem para seu acampamento os agradecendo o interesse por mim tomado. Ali permaneci oito dias para as arrumações precisas da viagem em cujo período entreguei 340 bois, inclusive minha boiada carreira por venda ao Cel. Zacarias Carneiro que ali se achava para serem pagos em Barreiras onde ele era residente. Não tendo ele dinheiro para exportar o gado na fronteira e como o agente não quis conceder prazo, ainda emprestei-lhe o suficiente para o fim. Ele residia adiante de Barreiras 6 léguas. Lá chegado o gado, ele veio me dizer que havia achado um comprador e por bom preço para ser entregue na margem do São Francisco e que tão logo o fizesse, me faria o pagamento, no que acreditei. Não foi assim porém, que ele de lá seguiu para Lavras dos Lençóis e de lá para São Paulo pondo todo mo meu recurso no jogo(?) e outras perdições, não tendo cá deixado senão a família e uma casinha em São Dezidério onde residia. Tempos depois voltou na miséria e mais aperfeiçoado no modo de roubar, pois até hoje por ser ainda vivo, nem um vintém me deu por conta.

                        E, foi assim, que a 9 de março de 1919 cheguei em Barreiras com minha família e a Ilma. Minha sogra que desde o começo andava em minha companhia, já lá achando o meu tio e amigo Alexandre Ayres com a família e meu genro seu filho Coquelin os quais também ali estavam pelo mesmo princípio, e, foi assim que, para não compartilharmos com um (522#29) de sangue e miséria, presentes e futuras, abandonamos todos os nossos recursos (522#31) a uma administração da jagunçada, pois apesar de sabermos que Abílio tinha interesse e dever de zelar pelo que era nosso, nesta ocasiões e situações, o chefe torna-se importante para evitar certos desmandos nem só por não estar tudo debaixo de suas vistas e como para não agravar a sua situação com os chefes das turmas de quem é dependente para sua garantia, e, infelizmente a maioria estão pela pilhagem que possam fazer, em cuja ocasião, com um arrebanhamento de gados e animais, vão o fazendo com os que encontram juntos aos dos inimigos, e, foi por este motivo que tivemos prejuízos de 1919 a 1923, pois que, nossas fazendas, continuaram administradas por nossos vaqueiros. Tanto que em 1921 eu e outros da família vendemos boiadas de nossa criação, pois naqueles tempos, o Quartel General das Forças Armadas do Governo e seus aliados era em Natividade. Dali e para ali chegavam e saiam os reforços.

                        Em 1921 veio o (523#17) para Natividade, dali empreendendo uma excursão pelo Município de Conceição com um grupo de soldados e aliados, a pretexto de arrecadarem armamentos que pudesse existir em nossas casas abandonadas e em poder dos nossos vaqueiros, o que não encontrando, se contentaram em conduzirem o que era nosso de mais precioso e mais leve(?), como ele próprio, o fez com um aparelho de chá de porcelana dourada de minha sogra, que se achava encaixotado em a casa de sua residência em Conceição, retornando para Natividade, em cuja ocasião, um grupo de soldados e jagunços, chefiados por Terto(?) Nicolau, fizeram diversas assassinatos inclusive até um menor de 8 anos que não soube informar onde estava o seu pai a quem eles procurava.

                        Abílio, a fim de ver se o governo suspendia as hostilidades retirou-se para Barreiras no Estado da Bahia, com o princípio de construir uma estrada de rodagem de lá para cá de sociedade com pessoas de sua família e amigos, deixando aqui apenas, algumas pessoas da sua família mais sem nenhum pessoal armado. Lá providenciou e obteve licença dos governos de Goiás e Bahia, onde nesta Capital fez a compra de ferramentas e o preciso para fornecimentos, trazendo até um engenheiro para fiscalização e levantamento da planta do traçado da estrada, o que o fez em primeiro lugar, seguindo pelo ramal para Taguatinga que também fazia parte do plano. Quando, porém, voltou e entrou no traçado do ramal tronco é surpreendido por um positivo o pedindo garantias para os que aqui se achavam, pois acabavam de traiçoeiramente assassinar Zuza Pinto, irmão do seu genro Antônio Póvoa, o qual aqui também residia, por pessoas vindas de Natividade do comando de força ali, o que por certo, conforme as providências seria reproduzido com os mais, pelo que, diante da nova ofensiva, Abílio abandonando os serviços voltou para o Duro com o seu elemento, ficando assim de prontidão, para o que desse e viesse, pais sem nunca estender a sua ação para fora do Município e do de Conceição que fazia parte integrante do movimento desde o princípio, por ser residência da maioria dos seus inimigos. O seu pessoal, mesmo em perseguição de uma ofensa recebida, como aconteceu diversas vezes, não tinha ordem de invadir nenhum Município vizinho, ao qual realmente foi respeitada. E, foi por esta razão e princípio, que Abílio novamente estabeleceu o seu Quartel General aqui. Estabelecido procurou reforçar as suas forças com pessoal aceitos(?) vindos de outros Estados, pois também em Natividade era reforçado por contingentes vindos da capital e civis aceitos como praças. Poucos dias depois, era gravemente baleado em sua fazenda que dista daqui 15 quilômetros, onde residia, o seu genro Antônio Póvoa, por uma nova emboscada traiçoeira, tendo sido deixado por morto, cuja vinda também de Natividade. Nesta ocasião havia também chegado na Natividade o Capitão Pinto(?) em substituição ao Costa(?) e ao Tenente Pery. Era intenção deles como diziam vir atacar Abílio aqui, para o que fizeram um ensaio partindo toda expedição de Natividade para Taipas em Conceição, para ali engrossando as suas fileiras, marcharem para o Duro. Sabendo eles, que Abílio devia saber deste movimento, pois de lado a lado existiam os espias, de Taipas voltaram na mesma batida, para atacarem pelo lado oposto daquele que já devia estar sabido. Abílio, para não ser sitiado marchou também com todo seu contingente em direção a Taipas. Antes de lá chegar, foi informado que eles já haviam naquele dia, passado a sua frente na mesma direção de onde tinham vindo o que ele seguindo(?) a sua batida com espias na frente, ficam sabendo a tardinha de que eles se achavam acampados na fazenda Santa Rosa, já a meia légua de distância, pelo que, ele suspendeu a marcha para ataca-los a madrugada como o fez.

                        Santa Rosa era uma fazenda de apenas uma casa barreada de paredes fracas e os currais. Chegados, com toda cautela e apenas entrincheirados em pequenas elevações do terreno, fizeram fogo, que lhes foi respondido. Dizem ter sido uma fuzilaria infernal, pois cada lado, tinha um efetivo de 200 homens mais ou menos. O ataque tinha sido feito apenas pelos lados do nascente e norte, pois o campo sendo raso e plano não podia ser feito por outra forma, do contrário atirariam nos próprios companheiros.

                        Às 6 da manhã, depois de um fogo de duas horas, aproveitando de uma completa serração por baixa neblina, eles arribaram pelo lado livre o qual era justamente a direção de Natividade, Cessado o fogo da parte dos sitiados, os retirantes foram aproximando até apoderarem-se do acampamento que se achava completamente desocupado isto já às 7 do dia claro.

                        Deixaram toda comitiva e animais por não poderem apanhar, a qual não era grande e nem muitos animais, por andarem quase todos a pé.

                        Tomado o acampamento e verificado que haviam corrido, foram procurar comer e descansar um pouco, pois há dois dias quase não faziam uma coisa e nem outra, depois do que seguiram em perseguição até as margens do Rio Manoel Alves, onde em um vau, acabaram de transporem para o Município de Natividade, o que fizeram com a precisa rapidez, por serem muitos deles conhecedores dos lugares e atalhos. As baixas foram pequenas, devido à distância que atiravam, visibilidade e posição sempre unida a terra, pelo que quase todas as balas tinham que passar mais altas. Como era costume não invadir outro Município, voltaram para a sede do Duro dali um grupo faziam excursões no município de Conceição, onde atacaram as fazendas Brejo e Taipas dos seus inimigos, que vinham fazendo parte com a polícia. Depois de serrados tiroteios, algumas baixas de lado a lado, eles escapuliram levando as suas bagagens em cargueiros, pois que, não sendo muitos os atacantes

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retiraram para um acampamento distante o que lhes deu tempo e lugar para a retirada para Natividade. Como disse, de lado a lado iam aceitando elementos que iam aparecendo dispostos a lutar. Apareceu um lá dizendo ser médico e chamar-se Aldo Borges e que estando em Boa Vista do Tocantins em comissão e sabendo do que a família Wolney estava sofrendo, havia resolvido vir oferecer os seus serviços a Abílio, mesmo por que, sendo de família importante no Sul de Goiás como dizia, muito podia contribuir para um alívio. Aceito entrou logo no comando de uma turma para o encontro de Santa Rosa, onde mostrou habilidade para o caso e coragem, granjeando assim, estima e confiança do chefe, sendo que neste tempo aqui também chegaram três senhores vindos de Pernambuco, dois com família, isto é, mulher, os quais apesar de serem de família importante ali, andavam em procura de isolamento daquele meio, onde suas famílias vinham vivendo em constantes lutas. Aceitos e agregados, passaram a fazer parte integrante dos acontecimentos e da família, por um ter se casado nela, vindo, portanto vivendo e merecendo confiança. Mais tarde, aqui chegava pela mesma razão, um senhor de idade e nomes(?) conhecido e respeitável, tio deles, acompanhados por dois homens de aparência e forma de lutadores. Aldo Borges, enciumado e achando-se em plano inferior numérico, traiçoeiramente assassinou o velho e seus dois companheiros nesta Vila e em seguida atacou José Piahuy e seus dois companheiros na fazenda Prazeres onde se achavam o que depois de forte tiroteio escapuliram, estabelecendo-se assim a

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desorganização e luta dentro do elemento de Abílio, tendo ele preferido ficar do lado de Aldo, com o que os outros procuraram evadir(?) indo oferecer os seus préstimos a força em Natividade para virem lutar contra Abílio, o que com prazer e interesse foi aceito, tanto pelo elemento de valor e como por conhecerem e os dos lugares. Naquela ocasião chegava em Natividade para reforço da Companhia o célebre Antônio César de Siqueira (o do Contestado) no Mato Grosso, especialmente convidado e nomeado Capitão Comandante da 4ª Companhia com sede em Natividade e Delegado Regional da Zona, trazendo um bom reforço e carta branca para dar praça  a quantos quisesse, pelo que, foi organizado ali um grande contingente para marchar contra o Duro. Com esta desorganização e enfraquecimento por abandono de outros também Abílio tão logo foi sabedor da marcha do Capitão Siqueira com suas forças em sua direção, abandonou com os seus esta Vila, seguindo para Barreiras no Estado da Bahia. Siqueira aqui chegando, estabeleceu o seu Quartel General e, como Abílio havia saído há poucos dias apenas saído(?), despachou um contingente no seu encalço, o qual alcançou uma turma de sua retaguarda onde ele se achava, no lugar denominado “Ponta d’Água” aquém de Barreiras 14 léguas e depois de um forte tiroteio com algumas baixas de lado a lado a força voltou e Abílio com os seus seguiram para a frente. De lá ele e os seus, procuravam municípios mais afastados, e Siqueira, estabeleceu o seu domínio de verdadeiro ditador de 1923 a 1926, quando foi substituído. Além do que ele aqui achou em abundância, gados aos milheiros, animais e criações de toda sorte em quantidades, estivas abarrotadas de cereais e gêneros(?) outros, sal, café, querosene, sabão, etc. Lhe veio do Gerais da Bahia de Abílio e outros da família, mais de cem rumares(?) e cavalos que se achavam em uma larga ou solta. Durante estes três anos de seu domínio, ele matou o que pode e vendeu o que achou quem comprasse pois estabeleceu um comércio interno com os sertões do Piahuy, Maranhão e Bahia, fronteiras deste Estado e lugar. A eles vendia bois, gados de criar, couros, sal e café, pois aqui montou uma grande casa de comércio para fornecimento das força e de muitos que não pudessem ir em Barreiras, assombrados pelas (529#13) ou para agrado ele mandava a Barreiras constantemente grandes tropas, carregada de couros de gados e carne de sol de gado que ele matava e dava para o povo matar aos quais só cedia a carne, isto é aos lavradores que restava, pois que para a força era vendida.

                        Cada tropa que despachava era acompanhada por um piquete de 8 a 10 praças para garanti-la sendo que nada com isto gastava, pois os tropeiros e carreadores eram praças de soldo. Para fazer este movimento ele tinha burros de sobra arrecadados. Aqui só podia negociar ele, porque qualquer que chegasse com mercadorias como muitos o fizeram eles os prevenia de que não se responsabilizava por negócios nenhum feito com soldados e estes, só recebiam no fim do mês o que tivessem direito, e, como ele de tudo tinha para vender, a força veria(?) quase toda com o soldo adiantado, pelo que os negociantes eram obrigado a venderem a ele o que traziam, pelo preço que ele quisesse.

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                        E, foi assim, que no decurso de sua permanência aqui, do que sei, ele mandou para os bancos 600 contos de réis em duas vezes, o que hoje valeria 10 vezes mais.

                        Os bens dos inimigos de Abílio , foram estragado de 1919 a 1923 pelos seus aliados e os deles, da família e de seus amigos de 1923 a 1926, pelo Capitão Siqueira, e seus comparsas, soldados e civis oficializados.

                        Ainda no tempo do ditador Siqueira, minha mulher consciente de que em nada tínhamos envolvido nestas questões, aproveitando da companhia e apresentação do nosso amigo Major Veríssimo da Mata, que vinha de Salvador, veio pedir a entrega e posse do restante das nossas lavouras o que lhe foi concedido mediante oito contos de réis para o Delegado Regional Dr. Aquino Pereira e seis contos de réis para um advogado sócio dele Siqueira, cujo processado, consistiu  apenas, em um ofício para o Sargento Comandante do Destacamento em Conceição, onde eram os referidos bens, que consentisse a ela entrar na posse dos seus bens e dispor como quisesse!...

                        Depois da retirada de Siqueira e das forças, procedi uma justificação oficial do meu prejuízo dado pela polícia e suas ordens que orçou em 173:400,000 ou seja 173.400,00 (530#24), isto a preço daqueles tempos que hoje seria 8 ou 10 vezes mais. Com a retirada do Siqueira, despatreamento dos principais elementos, os estragos e a decadência em que ficaram os dois Municípios, Duro e Conceição, o comandante que o veio substituir, retirou-se com a força deixando aqui apenas as casas que delas precisaram, sem nenhuma mobília, pois a exceção das que o Siqueira se servia, tudo mais foi estragado e até incendiado. Ainda no tempo do

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do Siqueira, para aqui voltaram, vindos do Estado da Bahia, a convite dele, os meus sobrinhos Póvoa, Rodrigues, Costa Ribeiro e outros pequenos elementos que foram obrigados a assistirem os desmandos represálias e roubo do que era seus, de seus amigos e de sua terra, mais que, pelas mencionadas de sua manutenção com o que era seus, vieram.

                        Esta descrição, é bastante longa e enfadonha, nem só pela natureza dos seus princípios e como pelos descontroles constantes da narração, próprio de um movimento em choques contínuos, de uma força armada que age em perseguição ou defesa, sem disciplina ou sem avanço ou recuo, e, não podia deixar de assim ser, por tratar-se de luta quase sempre de emboscadas, onde cada chefe de turma, age de acordo com as circunstâncias do momento, cuja ação por ignorância ou imprudência, faz mudar o cenário dos acontecimentos, o que quase sempre põe o chefe em dificuldades. Se deu muitos outros acontecimentos de menor monta, mais que, ligados aos fatos, ficaram neles intercalados e compreendidos.

                        Em resumo:

1.      As autoridades , Juiz e Coletor, não deviam exercer vingança contra uma viúva especialmente de um marido assassinado traiçoeiramente por um protegido seus, justificando(531#27) o devam, obrigando a ela descrever o que não possuía, e a comparecer continuamente em juízo, pelo que, morando fora, constituiu Abílio Wolney seu procurador, este que da mesma forma era tratado.

2.      Abílio sabendo que eu e meu genro Coquelin, tínhamos viajado para a Capital do Estado, especialmente para um entendimento com o Governador, no sentido de uma mediação, quanto as perseguições movidas pelas autoridades neste Município, não devia obriga-los a um despacho de concordata e julgamento no referido inventário, antes de nossa chegada.

3.      Não tendo havido conflito, eles não deviam retirar para outro Município depois de dias, pedindo ao Governo suas reposição, por força armada, a pretexto de deposição(?) a qual não houve.

4.      O Governo não devia como o fez, mandar um grande contingente de Força Armada, e sim, uma Comissão abrir o devido inquérito para apurar os fatos e depois agir, como fosse de direito e preciso.

5.      O Cel. Wolney, tendo retirado com a família, para fora da Vila, para dar franca entrada a força, em vez de estacionar com gente armada para sua garantia em uma sua fazenda daqui distante 7 quilômetros, devia ter seguido para o Estado da Bahia, mais ainda, quando tiver aviso de um amigo, saber do plano daquela Força, ter vindo para assassina-lo e ao seu filho.

6.      E que sabedor deste plano, não devia acreditar no que lhe disse o Juiz de Direito, quando a pretexto de visitá-lo a um seu Neto enfermo, o induziu verbalmente para sua casa, tecendo-lhe os maiores elogios, de homem honrado, honesto e trabalhador, o que ele acreditando, os despachou no dia seguinte, ficando apenas na fazenda com as pessoas da família e três dias depois, era assassinado lá de emboscada pela Polícia.

7.      O Juiz da expedição, não devia miseravelmente, ir iludir mentindo, a um velho chefe de família, de quem, além de não ter razão para ódio, não tinha ele crime, procedendo assim pois, um papel (533#8), covarde e de Judas, o que justificou ter sido mesmo, para  roubarem uma família, seus amigos e liquidarem um Município honesto, que apenas era na ocasião, oposição política, sem caso de luta, manchando o nome e tradição da ilustre classe.

8.      Abílio sabendo que sua família e seus amigos se achavam presos como reféns, não devia ter atacado como o fez, senão depois que tivesse a certeza de que já eram vítimas, pois tendo grande força armada, não teria receio de um ataque em sua posição.

9.      Finalmente, tendo Abílio escapo da emboscada que também era para ele, levado pelo sentimento e ódio seguiu para o Estado da Bahia, onde aliciando grande número de cabos de guerra e jagunços, veio vingar a morte do seu querido pai, e, o que se deu dali em diante, em conseqüência das lutas, se acha descrito nesta lutuosa história.

 

É com grande pesar e sentimento, que registro em “Minha História” estas ocorrências tão carregadas de crimes, misérias, vilania, infâmias e tudo mais cabível de sinônimos aos lutuosos acontecimentos descritos, o que faço por um dever de esclarecimentos para a mesma

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