Este artigo foi publicado no Jornal do Tocantins de 09/01/2005 em Tendências e Idéias, coluna de grandes intelectuais de nosso e estado e do Brasil, e eu fiquei muito feliz em ter um trabalho meu lá.

 

Tsunami no mundo

Mário Sérgio Mello Xavier
É poeta e acadêmico de Direito no Ceulp/Ulbra
indaga1@hotmail.com

Nestes dias em que o mundo está agitado, nestes dias em que uma comoção mundial se faz presente em todos os povos, nestes dias em que lágrimas foram derramadas no continente asiático, mostrando que a humanidade ainda tem coração, e ainda comove-se com perdas de inocentes irmãos. Gostaria que, na minha pequena didática e na pequenez dos meus escritos, conclamar a todos, por que a natureza humana está tão má? Por que as guerras? Por que os atentados? Por que tantos inocentes mortos? Porque a natureza está reagindo ? Em nome de que? por que? para que? Interrogações são colocadas e por mais que os grandes analistas mundiais tentem nos explicar não fica claro, não convence a ninguém tamanha barbaridade na terra que foi ofertada como convívio aos homens de boa vontade, para um viver feliz e passageiro para uma glória maior e majestosa depois do seu tempo determinado.

Ironicamente isso tudo bem simples, sem dinheiro não há instrumentos, sem instrumentos não há acompanhamento, sem acompanhamento não há alerta, sem alerta não há evacuação e sem evacuação, há o que há, uma tragédia. Se os governos das zonas atingidas tivessem gastado o dinheiro em instrumentos de prevenção de abalos sísmicos seria possível amenizar a tragédia. Mas o sistema que sustenta o oceano de injustiça que afasta o nosso mundo é também responsável pelo inferno de domingo. E pelos infernos que ardem ano após ano em outros terceiros mundos sob o artifício de catástrofes naturais que o primeiro mundo sim pode dar-se a prevenir.

O custo desses estudos que determinam a prevenção antecipando casos como estes são módicos quando se leva em conta a perda potencial de vidas. A imprevisibilidade, porém, não é desculpa para o despreparo dos países diante do impacto representado por calamidades como terremotos, furacões e inundações. Prevenção implica avaliação e controle de riscos e adoção de medidas adequadas para fazer face a tais emergências.

Nos últimos dez anos, o progresso da informática e da tecnologia incorporada em satélites, junto com os avanços da sismologia, permitem a obtenção de modelos para todos os desastres naturais. Nas nações industrializadas, firmas especializadas de engenharia orientam seus clientes comerciais, como companhias de seguro e resseguro, quanto à sua exposição a catástrofes nos países industrializados. Assim sendo, se existe no mundo uma região onde a prevenção é uma prioridade, essa região é a América, mais especificamente os Estados Unidos.

Quantos bilhões de dólares serão necessários para reparar esta catástrofe? Que tal o Brasil enviar parte de sua safra agrícola que se perde em nossas estradas e portos? Temos a nossa tsunami aqui; centenas de jovens morrem por ano no nosso país vítimas da violência da polícia, dos bandidos, do trânsito e de várias outras formas. O racismo no Brasil é uma praga longe de ser exterminada vide a maioria dos mortos pela violência. A expectativa de vida do jovem negro no Brasil é menor que a do branco. Ainda não resolvemos sequer parte dos problemas que se arrastam há 500 anos no nosso país. A prostituição infantil continua a toda e nas regiões mais pobres o quadro é pior ainda. Ainda temos escravidão em fazendas espalhadas pelo país.

O que aconteceu na Ásia é horrível e poderia ser menor o número de mortos, mas mesmo assim a imprensa internacional ainda seleciona o sofrimento pela cor da pele. Então a dor de um loirinho sueco, inglês, americano é maior que de um preto, indiano, escuro? Até na hora da dor o racismo vem à tona para provar que a hipocrisia não dá trégua nunca. Mas diante disso é nosso dever humano básico apoiar os que foram devastados. Provavelmente, ao longo de nossas vidas, não haverá outra ocasião para uma ação humanitária tão importante e tão necessária e harmonização humana que anda em falta no mundo.

Temos sim analfabetos, temos a prostituição infantil, a violência urbana, enfim, tudo resultado da ação humana e de maus governos. Porém, nada se compara a um desastre natural onde mais de 150 mil pessoas morreram de uma só vez, meio milhão de pessoas feridas e 5 milhões de pessoas estão desabrigadas. Há muitas crianças perdidas de seus pais, muitas órfãs, pais que esperam reencontrar seus filhos em vão. Pessoas que viverão o resto de suas vidas na dúvida e na esperança de reencontrarem seus entes queridos. Trata-se, sem dúvida, da maior tragédia do mundo dito moderno, justamente de uma modernidade herdeira do Iluminismo onde pensava-se que saber é poder e o poder está em dominar a natureza. Infelizmente o planeta precisou de uma grande chacoalhada para que o homem percebesse de uma vez por todas que a natureza é viva e maior do que o homem.

Precisamos sim, ajudar aqueles que estão em situação calamitosa e o brasileiro é um povo solidário. Tem demonstrado isso e as pessoas mais humildes são justamente aquelas que mais prontamente se dispõem a colaborar. Parece que a solidariedade, virtude ética por excelência, está muito mais no coração do que na razão.
Inútil buscar causas, culpas ou aliviar-se com desabafos mundanos da angústia propiciada pelas imagens e textos dantescos exibidos na mídia. Crentes ou agnósticos, religiosos ou seculares não é esta a hora de submeter-se à Divina Providência. No início de um novo ano, quando o tempo assume-se como protagonista, conviria pensar sobre a velocidade com que ele se escoa, como se desperdiça, como desgasta palavras, ações e intenções.

Um vigoroso programa de construção de satélites domésticos dedicados à monitoração sísmica, climática e ambiental e a formação de especialistas no setor não se constituem em luxo supérfluo, mas são antes de tudo necessidades de uma nação que se queira afirmar como desenvolvida economicamente e com preocupação real pela qualidade de vida de seu povo.

       

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