FALCÃO-JUVENTUDE DE HOJE
Mário Sérgio Mello
Xavier*
13/09/2006
A sociedade costuma fazer vistas grossas para o comportamento irreverente (muitas vezes excessivamente) de seus jovens. Afinal, é inerente à puberdade alguns exageros. Às vezes até salutar. Porquanto, o espírito revolucionário da juventude tem sido solicitado, em várias oportunidades, para os mais diversos fins: derrubar tabus e governos autoritários, servir seu país destruindo o alheio (serviço militar), e até consolidar “ideais democráticas”.
As violências indesejáveis como roubos, assassinatos e crimes hediondos estariam reservados às classes menos favorecidas (leia-se miseráveis), sem educação, desassistida pelo governo e vítimas da indiferença social como vimos no recente documentário pela rede Globo de Televisão? Esta visão começa aos poucos se ruir, porém, quando se vê os meios de comunicação divulgarem, amiúde, crimes de perversidade, dignos de folhetins de terror, praticados por jovens das classes baixas, médias e altas. O fenômeno tem alcance mundial. Não respeita países desenvolvidos nem sociedades tradicionais. E agora?
Explicações surgem dos mais diversos segmentos. Os educadores põem a culpa nos pais e no “sistema”. Os pais observam perplexos ou jogam a culpa na escola. A Igreja põe a culpa nos dois: escola e pais. Os psicólogos dizem que esta geração se criou sem a atenção dos pais... O homem comum acha que faltou “um puxão de orelha” ou “umas boas palmadas” no menino. Todos são unânimes em repreender e condenar a nova geração “perdida e desorientada”.
Não sou mais adolescente. Incluo-me, ou gostaria muito de ter nascido, nas últimas gerações que quiseram mudar o mundo e falharam. E se acomodaram ajudando a consolidar o argumento do poeta Belchior de que “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”.
Contrariando a maioria, no entanto, acredito na NOVA GERAÇÃO (onde me incluo). Vejo nesses distúrbios uma vontade inflexível de romper com a hipocrisia, de não sucumbir aos reclames da mediocridade material que permeia nosso tempo. O jovem de hoje quer casar? Quer construir algo de novo?
Sim, mas as condições de vida empurram os jovens e os trabalhadores para
a insatisfação... Os narcotraficantes valem-se dessa insatisfação para
torná-los clientes dependentes; os reacionários a utilizam para
disseminar a intolerância com as diferenças sociais e econômicas e os
tornar defensores do “status quo”.
Os jovens que aderem à luta por mudanças, de fundo na realidade social, são partes integrantes da realidade contraditória de uma sociedade dividida em classes. São minoritários, porém resultados inevitáveis da realidade social em que vivem. São produtos do meio numa relação dialética, e não mecânica. São muitos os descontentes com a sociedade em que vivem e que resolvem atuar pela sua transformação — seja negando-a, atuando conscientemente para transformá-la ou simplesmente buscando outras alternativas (inclusive, na violência e nas drogas).
Não é possível ser neutro numa realidade que não é neutra. A falta de atuação consciente na vida política e social favorece, objetivamente, à classe dominante. Assim, observo que os distúrbios, divulgados a granel pela mídia, são reflexos de uma sociedade hipócrita que, como bem observa o poeta Zé Ramalho, “já sente a ferrugem lhe comer”...
*Acadêmico do Curso de Direito e Servidor do Judiciário TJ/TO