VIOLÊNCIA URBANA

Dídimo Heleno Póvoa Aires*

27/09/2003

 

Durante o mês de julho, fui passar alguns dias na casa de meus pais e aproveitar para descansar a cabeça das turbulências do dia-a-dia. Voltei mais cansado, pois recebi, a dois dias do término das “férias”, a infeliz notícia de que minha casa havia sido arrombada. Chegando aqui em Palmas, descobri que os meliantes levaram, além do vídeo-cassete, as pouquíssimas jóias que possuíamos. Aos bandidos e salafrários em geral, um aviso importante: não adianta mais invadir minha residência, pois lá não existe qualquer bem material que valha a pena o risco. Daqui pra frente, só compraremos bijuterias baratas.    

Furtos em Palmas se tornaram rotina. Poucas são as pessoas que não têm algum triste episódio de violência urbana para contar. Como a grande maioria das famílias trabalha durante o dia – geralmente o homem e a mulher – e os filhos precisam estudar, não raro as residências ficam desabitadas no período. E é justamente nesse momento que atuam os bandidos. No meu caso, o furto aconteceu em plena manhã ensolarada de quinta-feira da Capital, pois o guarda que vigiava a casa havia saído.

 As cercas elétricas são a cena mais corriqueira, estragando esteticamente as residências palmenses. Depois que cheguei, além do prejuízo causado pelo furto, senti-me na obrigação de também mandar colocar uma dessas cercas na minha casa. Ao menos temos a ilusão de que estamos mais seguros. E ainda devemos agradecer pelo fato de não ter havido nenhuma vítima  fatal. 

 Muito se tem discutido a respeito da violência urbana que atinge as grandes cidades brasileiras. Palmas, por ser ainda uma adolescente, deveria aprender com os erros de suas irmãs mais velhas. Infelizmente, não parece ser o que acontece. O que dá segurança, ou pelo menos a sensação dela, é a presença física de policiais fardados, no caso a Polícia Militar, que por sua característica ostensiva, deveria estar de plantão nas quadras da Capital. Não se vê policial algum nas quadras. O que vemos são viaturas da polícia passando velozmente com suas luzes coloridas piscando, efemeramente nos transmitindo um fugaz alívio.

 Nada pode ser mais perturbador do que a sensação de insegurança dentro da própria casa. Ao cidadão comum deverá ser permitido o uso de arma dentro de sua residência, com o devido porte, conforme prevê o Projeto da nova lei de porte de arma, que ainda não foi aprovado. Uma questão que muito está sendo debatida é esta: ao invés de desarmar o cidadão honesto, não seria bem mais prudente desarmar os bandidos? Dentro de minha casa, considerada juridicamente inviolável, tenho o direito de defender-me e a minha família. Se um sujeito lá adentra com intenções outras que não a de uma cortês visita, penso que eu posso expulsá-lo, mesmo que para isso seja necessário o uso de uma arma de fogo. Andar por aí armado não acho conveniente. Mas dentro de sua residência, considero razoável que o cidadão possa se defender.

 A Lei nº 9.437/97, que institui o Sistema Nacional de Armas – SINARM, em vigor, diz em seu artigo 7º, entre outras coisas, que a autorização para o porte de arma dependerá de efetiva necessidade. A julgar pelo cada vez mais crescente número de furtos e roubos em Palmas, todo habitante honesto, maior de idade, está, naturalmente, apto a adquirir a tal autorização, basta que tenha comprovada idoneidade, comportamento social produtivo, capacidade técnica e aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo. Toda pessoa  honesta possui tais requisitos, com exceção, talvez, da capacidade técnica e da aptidão psicológica. Mas para espantar bandido dentro de casa, basta que o cidadão atire em sua direção. É bem melhor do que ficar acuado num canto da sala, rezando e tremendo de medo, esperando o momento em que o delinqüente estupre sua mulher e suas filhas e roube o que bem entender.

 Pensando bem, a capacidade técnica do cidadão brasileiro pode ser plenamente comprovada pela sua incrível agilidade em meio a essa verdadeira guerrilha urbana da qual é obrigado a participar diariamente. E para quem consegue sobreviver num País como este, onde a miséria e a violência fazem parte do cotidiano, o requisito da aptidão psicológica é naturalmente adquirido.

 

Dídimo Heleno Póvoa Aires – advogado e escritor.

 

       

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