João Rodrigues Leal


                    Assim Noélia Costa Póvoa Araújo(*) descreve o Dr. João Rodrigues Leal:

                    "Nasceu na antiga Vila de São José do Duro, hoje Dianópolis-TO, a 25 de maio de 1914. Filho de Afonso Rodrigues de Santana e Custodiana Leal Rodrigues.

                    Estudou em sua terra natal, adquirindo os primeiros conhecimentos, seguiu, no ano de 1936, para Porto Nacional, lá estudando na Escola Avulsa Secundária do Seminário; indo depois para o Rio de Janeiro com o objetivo de continuar os estudos. Fez o curso ginasial e o 2º grau, ingressando, em seguida, na Faculdade de Economia e Direito.

                    Em 1947, já formado em Economia e cursando o 3º ano de Direito, submeteu-se a dois concursos nas áreas do Legislativo e do Executivo. Foi aprovado em ambos e as nomeações foram simultâneas. Optou pela Câmara dos Deputados, onde tomou posse em princípio de 1948.

                    Antes de ingressar na Câmara, pertenceu ao quadro de funcionários dos Correios e Telégrafos. Foi aí que o Dr. Leal sentiu de perto as dificuldades dos serviços postais para chagar até longínquo Nordeste Goiano. Tempos em que, para receber uma correspondência vinda do Rio de Janeiro demorava até 6 meses!

                    Na época em que Benedito Póvoa, o tio Dito, era prefeito de Dianópolis, o Dr. Leal já integrava o quadro de funcionários da Câmara dos Deputados. Foi com grande esforço, por intermédio de amigos, que ele conseguiu a criação da estação radiotelegráfica para Dianópolis, trazendo o Sr. Elizeu Cavalcante como primeiro telegrafista, isso em 18 de setembro de 1950.

                    Conseguiu, também, o contrato para a construção do prédio da agência dos correios no final do ano de 1950, cabendo a seu irmão, Dário Leal, a execução das obras do prédio em sua gestão como prefeito.

                    Em virtude das dificuldades sofridas com relação à educação no município, foi que o Dr. Leal resolveu empenhar-se na criação de um educandário que viesse a servir a essa longínqua região. Era seu maior objetivo! Por isso, em entendimentos com o Dr. João d´Abreu, filho da vizinha cidade de Taguatinga, e único representante desta região na Câmara Federal, foi que começaram juntos a luta para a aquisição de verbas destinadas a este setor. A tarefa era árdua, pois, de início não dispunham de verbas, e precisavam de recursos para serem utilizados desde a aquisição do terreno, construção do prédio, aquisição  também de professores e até de uma comunidade religiosa que viesse "tomar conta" do mesmo. Lutaram juntos e conseguiram. Trouxeram, do Rio de Janeiro as primeiras freiras da Congregação das Escravas Concepcionistas do Coração de Jesus; o professor Dr. Wilson Azevedo (que foi também juiz de direito da comarca) e sua esposa, Dona Sulamita. Como diretor do Ginásio, veio de Porto Nacional o pe. João Magalhães, que com a boa vontade de D. Alano, Bispo da Diocese, atendeu à solicitação dos doutores João d´Abreu e João Leal.

                    Dianinha Araújo fez a doação do terreno e o Ginásio foi construído, começando a funcionar em 1952, sendo um dos melhores do Estado e recebendo o nome de "Ginásio João d`Abreu".

                    A ligação de nosso Município com  o de Taguatinga era feita por meio de uma "canoa" onde os animais atravessavam o Rio Palmeiras à nado. Tendo sido testemunha dessa dificuldade, foi que o Dr. Leal, com a ajuda do então deputado João d`Abreu -representante desta região na Câmara; do prefeito Dario Leal e do ex-prefeito Benedito Póvoa conseguiram, junto ao Distrito Rodoviário de Goiânia, firmar contrato para construção da ponte de madeira que serviu por muitos e muitos anos.

                    Durante o mandato do governador Coimbra Bueno foi criada uma linha aérea vindo de Goiânia, passando por Dianópolis e indo até Porto Nacional, sendo que das companhias que entraram em concorrência, a Cruzeiro do Sul foi a vencedora.

                    O ministério da Aeronáutica, inspecionando a área de pouso, exigiu tempo hábil para a construção da pista, abrigo para passageiros e cerca de arame para o campo de pouso. Diante do pequeno prazo exigido pelo Ministério, foi que o Dr. Leal, muito interessado para que tudo desse certo, fez um apelo ao Diretor Geral do Departamento de Imprensa Nacional no sentido de o contrato ser logo publicado. Pleiteou, junto ao deputado João d´Abreu e Wagner Estelita, emendas ao Orçamento da União, parte relativa ao Ministério da Aeronáutica, de dotações destinadas à construção de abrigo para passageiros e ampliação do campo de pouso, com alargamento da pista e cerca de arame.

                    A prefeitura já havia adquirido 40 rolos de arame farpado, mas o transporte era difícil, pois não tínhamos estradas. Foi aí que o Dr. Leal interviu junto ao Presidente da Cruzeiro do Sul, conseguindo o transporte gratuito deste arame, por via aérea, para que fossem logo agilizados os serviços, sendo que, dentro de pouco tempo, era inaugurada a linha aérea que tanto serviu a nossa população.

                    Na área de saúde, as dificuldades eram  constantes. É que aqui não havia médicos, nem hospital. O Dr. Leal, com muito esforço, conseguiu, por intermédio de políticos representantes desta região, verbas para a construção do Hospital São Vicente de Paula. Adquiriu, também, os primeiros equipamentos para o funcionamento do mesmo. Nessa época, também foi contratado o primeiro médico para Dianópolis, um goiano recém-formado no Rio de Janeiro, o Dr. Manuel Dias Pinheiro, que muito fez em prol da saúde desta comunidade. O hospital foi inaugurado no dia 18 de agosto de 1958.

                    Quando Hagahús Araújo residia em Patos de Minas, e era ligado a esta cidade por laços de sangue, idealizou a construção de um educandário para abrigar menores abandonados, foi o Dr. Leal seu primeiro confidente. A cidade aqui era pobre, carente de tudo, longe da civilização, sem recursos, mesmo assim, era seu "grande ideal" e ele foi avante! Seguiu para o Rio de Janeiro em busca de ajuda e apoio de alguém que tivesse influência na capital. O Dr. Leal foi a pessoa indicada para isso, pois, com seu prestígio e boa vontade, conseguiu junto a deputados representantes do Estado de Goiás e até mesmo de outras regiões  incluir no Orçamento da União duas verbas pelo Ministério da Justiça e da Agricultora. E Hagahús, incentivado pelo Dr. Leal, veio para Dianópolis iniciar os trabalhos. Para a escolha do local do Instituto, ele contou com a ajuda inestimável do Cel. Abílio Wolney. Os trabalhos iniciais foram financiados pela Casa Póvoa até a chegada das verbas federais. Segundo Hagahús: "Dr. João Leal foi o pé de boi, aquele que  agüentou idéias malucas e soube dar a ele conselho nas horas certas e difíceis; com sua ajuda e estímulo, foi construído o Instituto. Por mais de uma década, os recursos do Instituto dependeram tão- somente de você."

                    Deu grande parcela de contribuição na luta pelo  abastecimento de água e, paralelamente, na construção do Posto de Saúde de Dianópolis -o antigo SESP. Conseguiu ajuda, também, por intermédio do então líder do governo na Câmara, o deputado Vieira de Melo, da bancada da Bahia, ligado ao povo de Dianópolis por parentesco, pois o mesmo era casado com uma neta do cel. Abílio Wolney.

                    Dianópolis, como quase todos os municípios goianos daquela época, carecia de energia elétrica. Ainda na gestão de Benedito Póvoa, auxiliado pelo Dr. João Leal, foi adquirido um motor que gerou a primeira energia elétrica na cidade, tendo funcionado por muitos anos.

                    Eleito seu irmão Dario Leal, pensou-se na construção de uma hidrelétrica que pudesse fornecer mais energia. Com a ajuda do Dr. Leal, foram firmados vários contatos, enquanto isso a prefeitura já ia providenciando a aquisição de postes de madeira para a linha de alta tensão, e também a fiação. Findo o mandato de Dario, houve eleição para prefeito, tendo sido eleito João Joca Leal Costa, meu pai, que compartilhava do mesmo ponto de vista sobre a construção da usina. Meu pai era ligado ao Dr. Leal por laços de parentesco, pois seus avós eram irmãos, e eles muito amigos. Contatou com o mesmo, no Rio de Janeiro, viajando imediatamente para lá afim de juntos tomarem as providências necessárias. Chegando lá, entraram em contato com a AEG (Companhia Sul Americana de Eletricidade), sendo tomadas as primeiras providências, como seja, a ida de um topógrafo a Dianópolis, cujo trabalho seria o estudo do local e o levantamento que seria a base para o projeto. Foi firmado o contrato, tanto para a construção, como para o fornecimento  do material que, por sua vez, teve grande parte importada da Alemanha. Daí em diante, as verbas federais foram obtidas pelos deputados Wagner Estelita de Goiás, Israel Pinheiro e José Bonifácio (da bancada mineira) que, segundo o Dr. Leal, foram o seu braço direito nessa empreitada, eis que o Dr. João d`Abreu já havia deixado a Câmara dos Deputados pela Vice-governadoria de Goiás.

                    Sobre a construção dessa usina disse o Dr. Leal:

                    "O povo de Dianópolis acompanhou de perto a luta local para ver concretizada a usina, cuja execução coube ao prefeito João Joca Leal Costa. O Dr. Hermínio Pedroso, como engenheiro, acompanhou a construção da usina e o fez como encarregado pela AEG, mas ao que soube, o responsável direto pela construção foi  Coquelin Leal Costa, o qual segundo Dr. Hermínio, tinha todos os predicados para tamanha tarefa."

                    Eu era garota, tinha por volta de uns 9 anos, e me recordo ter presenciado a grande luta de meu pai na época da construção desta usina. Foram noites e noites mal dormidas, e não tinha horário pra nada, pois ele fiscalizava de perto, sempre que podia, o andamento das obras na Cachoeira do Manoel Alvinho. Tudo era muito difícil, pois não havia estradas e nem contava com a ajuda de máquinas, mesmo assim, a usina foi construída e inaugurada em janeiro de 1958, recebendo o bem merecido nome de "Usina Dr. João Rodrigues Leal."

                    Em 1967, no governo do presidente Costa e Silva, o Dr. Leal foi escolhido para ser o diretor do Banco da Amazônia, com sede em Belém-PA., tomando posse no dia 11 de junho do mesmo ano. Durante sua gestão, e, pelo grande interesse que sempre teve pelo desenvolvimento desta região, foi criada e instalada, dentre outras, a agência do BASA em Dianópolis. Na época, Hagahús era prefeito da cidade, e com todo emprenho e rapidez, agilizou as instalações do mencionado Banco. Para tratar de negócios com o BASA, naquele tempo, os clientes tinham que se deslocar para Natividade e fazer a baldeação do rio de Peixe, pois nem ponte havia. Lembro-me que, na época da construção da agência do banco, a área escolhida foi o quintal de nossa casa, que dava acesso à praça. Visando melhoria para nossa cidade, meu pai se não se opôs em doar o terreno para a prefeitura. E o banco foi inaugurado em abril de 1971, depois de ter funcionado em lugar provisório.

                    Esta é uma síntese dos trabalhos realizados em benefício do engrandecimento de nosso Município pelo "mui querido filho desta terra -Dr. João Rodrigues Leal", considerado, portando, como o maior benfeitor de Dianópolis.

                    Por isso, prezados dianopolinos, como admiradora que sou, e conservando a tradição da amizade que meus pais sempre tiveram por este grande homem, é que faço questão de divulgar suas obras, principalmente aos mais jovens, que ainda não tiveram a feliz oportunidade de conhecê-las, para que as mesmas não fiquem no anonimato.

                    Em nome de todos os dianopolinos, quero agradecer ao Dr. Leal pelos inúmeros benefícios prestados a esta comunidade, pois, com toda certeza, sua colaboração está presente em tudo que Dianópolis tem de bom." -Dianópolis fevereiro/2000.

 

 

(*) Noélia Costa Póvoa Araújo é professora aposentada, estudiosa das causas e coisas de Dianópolis, historiadora nata e  genealogista. Casada com o Dr. Candinho.

 

Observações finais sobre o dr. Leal:

                     Fez estágio em Roma, no Ministério do Tesouro e Orçamento e, em 1959 voltou ao Brasil. Em 1961 volta a Roma. Em 1969 casou-se com Carmen Ruth Bentes. Faleceu em 28.11.2000.

 

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