Brincando com o  Futuro

 

Jader de Melo Rodrigues*

17/10/2003

 

 

Quando falamos em inovação, criatividade, imaginamos logo que isso só acontece nos grandes centros e nas Capitais. Observamos que isso não é verdade. Em uma cidade pequena, uma fazenda, ou nas margens dos rios distantes das "civilizações", podem surgir pessoas criativas ou como dizem: meninos cheios de invencionices.

 

Um desses meninos criativos é Toím de Zeca**. Numa época em que era muito raro ver uma câmera de vídeo, ele tinha uma. E um computador, então?? Era algo praticamente impossível, numa cidadezinha do interior, falar em uma máquina estranha, capaz de guardar informações, imprimir cartas, fazer desenhos e tocar música. E o que era aquilo capaz de "cuspir" folhas de papel escrita com tanta rapidez? - Não é que era a tal da impressora?

 

Pelos idos de 1985, eu tinha recém terminado o 2º grau em Contabilidade. Neste época soube que Toím tinha um computador TK 2000 - Microdigital. A curiosidade se juntou com a necessidade de ser útil, então, procurei uma maneira de entrar em contado com o tal computador. Fui apresentado à ele. A parti daquele  momento, não falava em outro assunto, a não ser sobre suas “habilidades”.

 

Era ano de eleições municipais. Então, Toím estava com suas idéias funcionando a todo vapor. Criou um sistema de cadastro de eleitores e um outro programa para apuração de votos. Foram três meses de digitação. Seis mil eleitores no banco de dados. A máquina estava de barriga cheia de “bytes”.

 

No dia da eleição, foi o maior sucesso. A máquina se tornou atração principal da eleição. O eleitor não havia levado o título. Não era motivo para ficar sem votar. Bastava dizer o nome e lá estava as informações sobre o número do título, zona, seção. - Esse "bicho"  é mesmo inteligente, dizia algum curioso, admirado. Na verdade ele não é inteligente. Não existe nada mais burro que um computador. Ele é obediente e muito rápido.

 

Terminada a eleição, entra em cena, a apuração dos votos. Neste momento foi muito marcante. Inédito! Jamais alguém havia ouvido dizer que se apurava resultado de eleição usando um computador. Os boletins de urna, depois de apurados e conferidos pelo método tradicional de apuração, pela contagem voto a voto, lançava-se os dados no programa de apuração automática. O sistema tornou-se tão eficiente e confiável que muitas vezes encontrava erros nos resultados oficiais.

 

O juiz, percebendo que aquele troço funcionava de verdade, passou a confiar nos resultados calculados pelo computador. A credibilidade se espalhou pelos candidatos, eleitores,etc.

Naquele momento nascia em Dianópolis, o primeiro sistema de apuração de votos do Brasil.

 

Como vocês podem perceber, a criatividade não está um lugar geográfico, mas sim, na cabeça. Talvez até esteja nos olhos daqueles que visualizam o futuro.

 

“ O futuro está sempre presente” – Peter Drucker ( Guru e pai da Administração)

 

*Jader de Melo Rodrigues é dianopolino, mora em Porto Velho. É Administrador de Empresas. Expert em informática.

** Antônio Costa Aires