O PUXA-SACO
DÍDIMO HELENO PÓVOA AIRES*
09/07/2005
Uma
das figuras mais peculiares do cenário nacional é o puxa-saco. Diria até
mesmo ser ele indispensável a certos profissionais. Não se concebe, por
exemplo, o político sem um autêntico puxa-saco. É ele quem o apóia nas
horas difíceis. É quem, na escassez de aplausos, não se constrange em
bater palmas entusiasmado, acompanhadas sempre de um sonoro “É verdade!
Apoiado!”.
É
também um sujeito temido, pois ante qualquer comentário maldoso que se
faça em relação ao seu amo, a notícia imediatamente chegará aos seus
ouvidos. Ninguém suporta um puxa-saco autêntico. Ele é capaz de
arriscar a vida para proteger o seu patrão.
Geralmente, são pessoas que carecem de amor próprio, que se contentam
com a inferioridade e até encaram como uma fatalidade do destino; o seu
parco salário é complementado com alguns afagos e palavras de elogio, o
que os deixam sinceramente recompensados.
Talvez
o mais notório puxa-saco que o Brasil já conheceu tenha sido Gregório,
um negro de quase dois metros de altura e que andava colado a Getúlio
Vargas. Não se intimidava nem mesmo quando, em público, penteava os
cabelos do Presidente. Os inimigos de Getúlio eram seus inimigos e os
amigos, seus amigos. É o símbolo do puxa-saquismo nacional, idolatrado
pelos puxa-sacos menos ilustres e reverenciado pelos principiantes dessa
arte.
Trata-se
mesmo de uma arte. Não é fácil ser puxa-saco. É preciso uma baixíssima
auto-estima, frieza para encarar os prováveis constrangimentos e
constante estado de alerta, sempre pronto a perceber as mais ínfimas
necessidades do amo. O puxa-saco é, antes de tudo, um forte, como disse
Euclides da Cunha em relação ao sertanejo, no livro Os
Sertões.
A
política é a área onde mais prolifera o puxa-saco. Todo senador,
deputado e até mesmo vereador, tem o seu. São indispensáveis no
dia-a-dia da política. É ele quem elogia, quando faltam elogios, é quem
afaga, na falta de afagos, é quem respalda, quando são escassos os
respaldos e – muito importante
– é o saco de pancada e
quem leva os maiores carões, mesmo quando os erros são dos outros. Serve
como ótima fonte descarregadora de tensões e ansiedades dos seus patrões.
É a válvula de escape, o aliviador de stress.
Além
do puxa-saco de político, existe o de autoridade. Esse, não pode ver
farda, terno ou gravata. Alguns exageram e fazem até continência. Outros
beijam a mão e lacrimejam, emocionados. São sujeitos que proporcionam
cenas patéticas, como adolescentes histéricas diante do seu ídolo.
O
pior tipo de puxa-saco, sem dúvida, é o ignorante. Barbosa Lima
Sobrinho, Presidente da ABI – Associação Brasileira de Imprensa, que
também foi um político atuante em Pernambuco, estava visitando um município
daquele Estado, quando um conhecido puxa-saco local subiu ao palanque e se
dispôs a fazer as apresentações: “– Senhoras e
senhores, estamos recebendo hoje nesta humilde cidade este ilustre
homem, talvez um dos maiores déspotas e demagogos deste País ...”. Um
silêncio constrangedor tomou conta da platéia. Barbosa Sobrinho, no
intuito de amenizar a situação, disse ao microfone: “– Agradeço as
palavras proferidas pelo orador antecessor. Não propriamente as palavras
ditas, mas a intenção delas”.
O
puxa-saco discreto também é uma figura bastante comum. Aparentemente, não
parece ser bajulador. Com um olhar mais detido, é possível identificá-lo.
Age sempre com muita cautela, proferindo palavras consoladoras em momentos
certos e está sempre pronto a dar conselhos e variados palpites. No
fundo, sente vergonha em ser puxa-saco, mas também sabe da importância
que tem a bajulação para a conquista dos seus objetivos. Uma das
características dessa “espécie” é a educação exagerada, que serve
para camuflar suas verdadeiras intenções. Nunca confie em pessoas
extremamente educadas.
Neste
ano pré-eleitoral, os puxa-sacos estão se esbaldando. É a época mais
esperada por todos eles. Suas mãos ficam doloridas dos aplausos
fervorosos que distribuem nos comícios e suas cordas vocais criam calos
de tantos elogios rasgados e gritos eufóricos. No final, talvez ganhem a
simpatia do político e consigam um lugar ao sol. Alea
jacta est!
*Dídimo Heleno Póvoa Aires – advogado.