COMO IDENTIFICAR UM HIPÓCRITA
DÍDIMO HELENO PÓVOA AIRES*
28/07/2005
No
Brasil de hoje, um dos artigos mais comuns é a mentira. Existem pessoas
viciadas em mentir. Com tanta corrupção à vista, é de se imaginar que,
por trás de tudo isso, vicejam os mentirosos e hipócritas de toda espécie.
Mas não é só no campo da política que esse mal impera. Está presente
no cotidiano de todos nós, nas conversas banais, no convívio com os
amigos e até na família.
Todo
hipócrita é amável, agradável, conversa fluente, paciente, cheio de
boas intenções. Essas são as armas que, com mais freqüência, utilizam
aqueles que se especializam na arte de enganar. Falar a verdade é o
grande antídoto contra o veneno da hipocrisia. E a verdade, como se sabe,
não é amiga da dissimulação, do escamoteio, da falsidade. Como nós,
brasileiros, estamos vivendo um período de extrema crise moral, tanto na
política como na sociedade e, conseqüentemente, na família – que,
como dizem, é a base dessa mesma sociedade – fiz uma pesquisa, com o
intuito de fornecer, aos interessados, uma espécie de manual contra essa
praga que infesta nossas vidas.
Um
hipócrita legítimo é perfeitamente identificável. Fiquem atentos, pois
tal tipo de gente usa a mentira para seduzir ou corromper. Dificilmente a
verdade atrai simpatia, visto que é muito mais fácil ser simpático
dizendo inverdades. A você, leitor, que é uma vítima dos hipócritas,
trago, com o auxílio do estudioso do assunto, Daniel Muniz, algumas técnicas
que ajudarão a identificar o sujeito da espécie. A psicologia e a
fisiologia nos fornecem alguns meios de identificar o hipócrita nato:
primeiro, analise os sinais
associados à expressão verbal:
lentidão das respostas, hesitação, longos silêncios, demora para o
começo da fala, tom evasivo das respostas, repetição das respostas,
respostas prolixas, respostas contraditórias, alterações na voz, tom de
voz elevado. Segundo, verifique os sinais
associados à expressão física: fuga aos olhares diretos, olhar
distraído, falta de expressão facial ao falar, falsos sorrisos – não
mexem os músculos em torno dos olhos, leve apertar dos lábios, expressões
faciais que permanecem por mais de dez segundos como uma máscara, expressão
facial fixada apenas em um lado do rosto, piscar muito. Outra característica
do hipócrita: o uso indiscriminado da palavra “Deus”.
Estudiosos
do assunto ensinam que na chamada "educação familiar", o
exemplo da corrupção é o ato repetido de dar tudo o que os filhos
pedem, menos o exemplo de coerência. Os pais que ameaçam os filhos com
castigos constantes criam uma relação na base da troca. É o primeiro
contato com o fisiologismo, o toma-lá-dá-cá. Isso é um estímulo à
mentira. A criança precisa de uma relação em que o exemplo de
sinceridade venha dos pais. Um simples dito popular pode demonstrar o hábito
da auto-corrupção, implantado no ambiente familiar e nas relações
entre pais e filhos: "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço".
Um
dos melhores resultados que se pode obter para não criar, dentro de casa,
um futuro hipócrita, mentiroso e corrupto, é oferecer uma boa educação.
O Brasil pode curar esse mal através dos bons hábitos, do estímulo à
coragem, do incentivo em falar a verdade, mesmo quando isso possa não
atrair simpatia. O engodo, a má-fé e a maledicência são primas da
mentira, irmãs da hipocrisia.
Identificar
um hipócrita já no início de uma provável relação é de suma importância,
pois evitará dissabores futuros, convívios infrutíferos e decepções
irreversíveis. Portanto, aos sofridos brasileiros honestos, resta a
sensibilidade em captar a mensagem enganosa ainda no seu nascedouro, vez
que é muito menos doloroso deixar de fazer uma amizade a ter que desfazê-la
depois. Como diz a sabedoria popular, “antes só do que mal
acompanhado”.
*Dídimo Heleno Póvoa Aires – advogado.