Cleptomaníacos do PT

 

 

DÍDIMO HELENO PÓVOA AIRES*  

 

10/08//2005

 

América, a novela da Rede Globo que está sendo exibida no horário nobre, traz uma personagem ricaça, vivida pela atriz Cristiane Torloni, de nome Aidê, que basta ver pequenos objetos à sua frente, para surrupiá-los. Sua compulsão por furtar é incontrolável. Como se trata de ficção, o telespectador se diverte com suas peripécias.

 

Aqui na vida real não tem nada de divertido assistir, quase diariamente, a cleptomania que tomou conta do país, mais precisamente através de muitos dirigentes do PT, do mais baixo ao alto escalão. O engraçado é que, quando questionados sobre os furtos vultosos, não conseguem responder de onde veio ou para onde vai tanto dinheiro. Alguns, mais sensíveis, se derretem em lágrimas diante das câmeras, sem qualquer constrangimento. Outra pergunta sem resposta: alguém assinou o cheque em branco que Lula deu ao Roberto Jefferson?

 

Algum tempo atrás, o presidente Lula fez um discurso inflamado no Rio de Janeiro, proclamando-se o mais ético e honrado dos brasileiros, uma vez que sua mãe, que “não sabia escrever o ó com o copo”, deixou apenas essa herança. Antes, o nobre Presidente fazia apologia apenas da própria ignorância. Agora, colocou até a mãe no meio. O tal discurso soou emotivo demais para o já desconfiado povo brasileiro. E o argumento foi o mesmo de sempre: a elite quer tirar o operário do Poder. Como bem analisou o jornalista Joelmir Betting, a única elite que o traiu foi a do próprio PT, incluindo o seu ex-presidente, o ex-ministro da Casa Civil, o ex-secretário-geral do Partido, bem como o seu ex-tesoureiro.

 

O discurso pareceu-me mais um pedido de socorro. É como se o presidente, ao contrário de Figueiredo, dissesse: “não me esqueçam!”. Somente no mês de outubro de 2006, o povo dirá se o esqueceu, ou não. Quanto à honradez, a moralidade, a dignidade e a ética de Luiz Inácio, nada ainda há que o desabone. Mas pela inépcia e pela omissão, poderia ser responsabilizado, o que acabaria inevitavelmente num processo de impeachment. Seria o primeiro caso de um presidente digno e probo, acima de qualquer suspeita, a ser defenestrado do cargo, em que pese as suas reconhecidas qualidades. É como se ele não tivesse sido aprovado no estágio probatório, por descumprimento ao requisito da eficiência. 

 

Nessa ciranda toda, assiste-se de tudo, os mais hilários episódios. A roubalheira foi tanta, que até dólares na cueca encontraram (nem Aidê conseguiria ser tão criativa), sem falar num jeep Land Rover que andou circulando por aí. Mas as cenas que certamente ficarão marcadas serão aquelas em que o funcionário dos Correios embolsa três mil reais (o início de tudo) e, principalmente, aquela em que o assessor do irmão do Genuíno (o da cueca), incorporando a atitude clássica do gatuno universal, sai do elevador, dá uma olhadinha para a direita, uma para a esquerda, e, diante do caminho aberto, ergue o peito e segue triunfante pelo corredor afora, com suas malas abarrotadas de grana. É a imagem da cleptomania nacional.    

                                                    

 

*Dídimo Heleno Póvoa Aires – advogado.

 

 

       

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