O FASCÍNIO DA GRAVATA
DÍDIMO HELENO PÓVOA AIRES*
16/10/2005
É
inegável que, para se tornar elegante, o homem deve fazer uso de uma bela
gravata. É a vestimenta universal. Até mesmo os árabes, hoje, quando
querem se mostrar bem vestidos, no mundo ocidental, fazem uso dela. O fascínio
que esse pedacinho de pano exerce sobre alguns é impressionante. As fêmeas
da raça humana, de modo geral, adoram um macho engravatado, e dizem os
entendidos que essa atração se dá pela sua forma sugestiva fálica. Além
disso, paira na consciência popular a idéia de que gravata combina com
gente importante, com doutor. Quem a usa, pensa o povo, é quem está bem
posicionado na vida.
Obviamente,
muitos que nem são tão importantes assim usam a gravata no intuito de
parecer que o sejam. Colocá-la é satisfazer o ego. E existem os seres
que simplesmente a veneram. E nem estou falando das mulheres. Estou
falando de homens que ficam verdadeiramente fascinados quando enxergam uma
gravata, sem nem mesmo analisar o pescoço de quem a usa. Entendem essas
pessoas que, se o sujeito está ostentando tal adereço, é porque merece.
E aí não perdem tempo e puxam o saco com muito gosto. A minha digressão
– e esse é o mote deste artigo – se refere aos adoradores de
autoridade.
Existem
pessoas que amam venerar as autoridades. Até pode ser algo que faz parte
da fraqueza humana, visto ser natural admirar os bem postos na vida, as
pessoas que conseguem, de alguma forma, se destacar. E é razoável que
assim seja, afinal abaixo do sol tudo é vaidade. Mas a partir do momento
em que esse fascínio se torna obsessivo a ponto de fazer com que o
fascinado perca a noção do bom senso, é caso preocupante, merecedor de
ser analisado com mais acuidade. E a gravata, esse objeto maravilhoso, é
o sinal, o indicador, a luz que cega o grandioso e eloqüente puxa-saco.
Conheço
boas pessoas que se derretem diante de uma gravata. E o pior de tudo é
que, ao se derreterem, não percebem o ridículo a que são submetidas. E
aqui a gravata é mais um fator psicológico, sendo até mesmo desnecessário
que a pessoa a esteja usando, de fato. Basta ser autoridade, digna de
ostentá-la. No imaginário dos aduladores, engravatado é quem “pode”
usar, por ser importante. Sabedor disso, o puxa-saco voa na jugular do
infeliz. Esses adoradores são, como todo bajulador, dignos de desconfiança:
ficam sempre do lado de quem possa ser-lhes conveniente, não importando o
caráter ou a lhaneza do sujeito.
É certo que as autoridades devem ser respeitadas. Somente respeitadas. Não precisam, necessariamente, ser veneradas. Mas esses amantes da gravata não pensam assim. Acham eles que o importante é o que está de fora, o externo, desvalorizando completamente os meros mortais comuns. E sofrem. Sofrem porque, na sua cegueira, deixam de analisar o que realmente precisa ser analisado na convivência entre duas pessoas: a confiabilidade, o bom caráter, a moralidade e a honradez. Aos devotos de autoridade, um providencial aviso: quase sempre os estelionatários também usam gravata. Até para puxar saco é preciso ter critério.
*Dídimo Heleno Póvoa Aires – advogado.