A POLÊMICA DO CÓDIGO DA VINCI
DÍDIMO HELENO PÓVOA AIRES*
07/11/2005
Dan
Brown, autor do livro “O Código Da Vinci”, está sendo execrado por
alguns e reverenciado por outros, tudo por conta da polêmica levantada no
seu intrigante romance. Até de plágio está sendo acusado. Como já se
previa, o livro será adaptado pra o cinema, provavelmente com a participação
do premiado Tom Hanks.
Talvez
fosse essa justamente a idéia do autor: causar o máximo de polêmica; e
parece estar dando certo, a julgar pelos mais de 15 milhões de livros
vendidos no mundo inteiro. E a melhor e mais eficiente forma de chocar, ao
menos no mundo ocidental, é falar mal da Igreja Católica que, por seus
inúmeros erros do passado, até hoje é atacada impiedosamente. Formada
por homens, é natural que existam equívocos e desacertos na sua história.
Eu,
por exemplo, interessei-me pelo livro depois de ler um artigo de autoria
do jurista Ives Gandra Martins, em que demonstra toda sua indignação com
as – segundo ele – mentiras descritas no romance. E se artigos como
esse pretendem desmoralizar o autor e o livro, acabam fazendo marketing
por via indireta, afinal quem não gosta do que é proibido?
E o livro, como divertimento, é ótimo. Acho até que estão
levando muito a sério o que não mereceria mais do que indiferença,
tendo em vista que as afirmações do autor não possuem qualquer respaldo
histórico e científico. É o mesmo exagero demonstrado com “Os Versos
Satânicos”, do anglo-indiano Salman Rushdie, que disse algumas bobagens
sobre o Islã e foi condenado à morte pelo então aiatolá Komeini. Foi a
melhor propaganda que poderia obter, e de graça. Vendeu muitos livros,
está podre de rico e não se fala mais nisso. A sorte do Dan Brown é que
as coisas são mais brandas por aqui. O Cristianismo é, por assim dizer,
mais light. A não ser Ives Gandra e alguns poucos fervorosos, acho
que ninguém mais está desejando sua morte.
Mas
o que disse ele, em seu livro, para causar tanto reboliço? Disse que
Jesus Cristo foi casado com Maria Madalena e que tiveram uma filha,
chamada Sara. Só isso já seria suficiente para causar arrepios em
qualquer cristão. E disse mais: que Cristo, na verdade, entregou os
cuidados da Igreja a Maria Madalena, e não a Pedro, como pregam os católicos.
O que aconteceu foi que, por machismo e ciúme, os apóstolos armaram uma
represália contra ela e usurparam a incumbência. E mais: a Bíblia foi
escrita por homens e, assim como Jesus, ela não tem nada de divino. Foi
tudo invenção, segundo ele. Para Brown, a verdade encontra-se reunida no
Santo Graal, uma série de documentos que conta a “verdadeira história”.
Quem protege tais documentos e os restos mortais de Maria Madalena, é uma
sociedade secreta conhecida como Priorado de Sião. E diz mais: vivíamos
na era de peixes, mas a partir do ano 2000 entramos na era de aquário,
oportunidade em que a “verdade” será revelada. Para finalizar: Cristo
é descendente de reis (Davi e Salomão), assim como Maria Madalena também
tinha sangue azul. Esse negócio de prostituta é invenção dos invejosos
para denegrir sua imagem. Foi uma moça pura, esposa de Jesus, mulher
direita. Com uma estória dessas, impossível não causar polêmica.
A
única verdade que sabemos é que, mais cedo ou mais tarde, com ou sem
Santo Graal, vamos todos morrer, jogados na mesma vala comum para onde vai
a humanidade. Depois disso, só Deus sabe. Até lá, sou da opinião de
que o sujeito deve ler de tudo, pois dizem que o espírito leva consigo o
conhecimento. É triste uma alma burra. Mais fantástico do que o Código
Da Vinci, só o Antigo Testamento. Ambos inspiram a mesma pergunta: onde
termina a ficção e começa a tal verdade?
*Dídimo Heleno Póvoa Aires – advogado.