FUXICOS E FUTRICAS

 

 

DÍDIMO HELENO PÓVOA AIRES*  

 

15/01/2006

 

 

Gostaria de abusar um pouco de sua paciência, leitor(a), para falar sobre uma questão que, a princípio, parece banal, sem importância. A depender de sua sensibilidade, concordará comigo e apreciará demasiadamente este assunto.

 

Quando ousamos adentrar por esses espinhosos caminhos do comportamento humano, corremos o risco de trair os nossos próprios princípios, já que temos – nós os macacos – o costume de não olhar para o próprio “rabo”.

 

Falar da vida dos outros, para os que mantêm esse mau hábito, é um imenso prazer, uma espécie de catarse ante a desgraça alheia. Quando digo “falar da vida dos outros”, naturalmente estou dizendo da vida daqueles que não estejam envolvidos na conversa e nem sejam parentes ou amigos íntimos dos presentes. É um deleite total.

 

Ao travarmos uma conversa, geralmente acontece aqueles momentos em que todos ficam calados, pairando sobre as cabeças um silêncio constrangedor. É exatamente aí que mora o perigo. Muitas vezes por falta de assunto e outras por mera ruindade, inicia-se o festival de comentários maldosos.

 

Uns justificam sua atitude sob o irresponsável argumento de que, “se todo mundo fala da vida de todo mundo ...” e manda brasa! Mas, como de tudo se tira proveito, esses também são os momentos para se observar o caráter das pessoas. Alguns falam sem más intenções, apenas para passar o tempo. Outros, aproveitam para espalhar discórdias e intrigas, alterar fatos, inventar situações e dar opiniões devastadoras a respeito da “vítima”. 

 

Às vezes, após essas conversas inúteis, saímos com a sensação de quem cometeu muitos pecados, com o espírito carregado. Se é que existe o “demo”, não resta dúvida de que, em tais momentos, ele deita e rola, saboreando cada instante da podridão que é o ser humano, lambendo todas as feridas, abertas pela língua ferina dos hipócritas.

 

O linguarudo ou fuxiqueiro costuma ser um sujeito peculiar: geralmente chega de mansinho, como quem não quer nada, dá uma opiniãozinha aqui, outra acolá, envolvendo o interlocutor numa espécie de hipnose e, nesse instante, dá o bote, qual uma cascavel de chocalho.

 

Nas cidades do interior, as futricas e fuxicos são mais comuns, pois todos conhecem todos e, como o convívio é intenso, a vida alheia torna-se assunto de interesse público. Em ano eleitoral, como agora, a política dá o tom nas maiores desavenças. Cabos eleitorais se especializam em disseminar a discórdia e todo tipo de intriga, investigando até mesmo a vida íntima do adversário, fazendo chacota de suas prováveis fraquezas. Os temas mais explorados são a impotência sexual, traição conjugal (de preferência quando o candidato é o traído) e possíveis desvios de conduta detectáveis, como trejeitos femininos ou olhares de peixe morto que porventura deixe escapar. Nessas ocasiões, sugere-se todo tipo de baixaria, as piores insinuações e os mais deploráveis comentários. Muitos foram os que entraram na campanha eleitoral com fama de “cabra-macho” e saíram com a desmoralizante pecha de “viado enrustido”.

 

Falar mal da vida alheia é realmente um hábito condenável e, como se vê, boa parte da humanidade está fadada a morrer pela boca. Não pelo alimento que entra por ela, mas, como ensinam as Escrituras, pelo que dela sai.

 

*Dídimo Heleno Póvoa Aires – advogado.

 

 

       

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