Rindo da desgraça alheia

 

DÍDIMO HELENO PÓVOA AIRES*

 

02/09/2007

O festival de gozação começou com a ministra Marta Suplicy pedindo para o povo relaxar e gozar. Depois, veio o assessor especial Marco Garcia que, num gesto obsceno, mandou o povo “fazer sexo”, para não dizer outra coisa. Na verdade, houve uma inversão nas sugestões, visto que, normalmente, para relaxar e gozar é preciso, primeiro, praticar o sexo. No governo de Lula o gozo e o relaxamento acontecem antes da transa. É a mais vergonhosa ejaculação precoce da administração pública.   

 

Nunca se viu, no país, tanto desrespeito ao cidadão, de forma tão explícita e agressiva. Aquelas cenas de aeroporto são o mais puro retrato do descaso. O acidente com o avião da TAM fechou com “chave de ouro” essa fase de esculhambação. E isso tudo antes mesmo que se investigasse outro acidente estúpido, o da Gol, ocorrido há pouco mais de dez meses.

 

O aeroporto de Congonhas é um verdadeiro porta-aviões em pleno centro de São Paulo. Nem é preciso ser especialista para perceber que outros acidentes acontecerão, é questão de tempo. O ministro Guido Mantega, dando continuidade à pilhéria governamental, disse que o caos aéreo é fruto da estabilidade econômica. Ou seja, basta crescer um pouquinho economicamente que o Brasil mostra toda a sua incompetência.

 

Porém, a maior desfaçatez, em minha opinião, ainda estava por vir: aconteceu na posse do novo ministro da defesa, Nelson Jobim. O presidente Lula, demonstrando mais uma vez sua notória insensibilidade, aproveitou o momento para fazer suas piadinhas ridículas, despertando o sorriso dos seus subordinados. A típica piadinha sem graça do chefe, que provoca aquele semblante amarelo nos chefiados.

 

Em meio ao clima de trauma do terrível acidente, Lula disse, com despropositada jocosidade, que morre de medo de avião. Depois fez gracejos com o novo ministro. E a turma toda ria gostosamente. Num momento desse, em que famílias choram a perda dos seus entes queridos, deveria o Presidente ao menos ter lido um discurso, preparado com antecedência e cuidado. Optou, mais uma vez, pelo improviso e, mais uma vez, deu uma aula de gafes e falta de educação. Waldir Pires, com um sorriso aéreo e débil nos lábios, no momento em que entregava a pasta a Jobim não disfarçou um gesto de alívio por ter deixado o posto. Aliviados estamos nós, que ficamos livres de um incompetente.

 

O teatro dos horrores e do escárnio foi completado com o riso sinistro e incontido do presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, quando um deputado, no Congresso Nacional, o acusou de incompetente. Ao despertar a ira do parlamentar, ainda teve o atrevimento de exigir respeito.

 

Como resultado de tanto descaso, começam a surgir as primeiras vaias ao Presidente. No Maracanã lotado foi vaiado seis vezes. Outro dia, em Aracaju, em pleno Nordeste, também foi vaiado. Como se vê, nem mesmo Lula, com seu carisma e popularidade, está imune à ira popular. Se há uma coisa que o brasileiro não suporta é esse tipo de gente que gosta de rir da desgraça alheia. É hora do Presidente levar um pouco mais a sério os problemas nacionais, sob pena de ver a sua alegria de hoje ser transformada em lágrimas nas urnas de amanhã.

 

 

 

*Dídimo Heleno Póvoa Aires advogado, membro das Academias Palmense e Tocantinense Maçônica de Letras.

 

 

       

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