Um homem na minha vida

 

 

DÍDIMO HELENO PÓVOA AIRES*

 

13/01/2008

 

Minha mulher se apaixonou por outro cara. E o pior: eu também. O cara em questão é lindo, fofo e tem quatro meses de idade. É o nosso filho. A vida lá em casa, que já era boa, ficou ainda melhor. Eduardo, o nome dele, trouxe algazarra, gritinhos e um sorriso ao nosso lar que estão nos deixando – eu e minha mulher – embasbacados. Babões, melhor dizendo.

 

O amor que se sente por filho é diferente daquele que sentimos pelos pais, mulheres e amigos. Só sabe quem tem. É um amor singular, incondicional, sem limites.  Passei dez anos para sentir tamanha felicidade, mas por opção. Não me arrependo de não ter tido filho antes, afinal, como sabiamente ensina o povo, “o que os olhos não vêem o coração não sente”. Porém, depois que se vê aquela criaturinha mexendo, chorando, olhando para você, a vida passa a ter outro sentido.

 

Chegar em casa após o trabalho torna-se um dos melhores momentos do dia.  Acordar no meio da madrugada e se deparar com um sorriso largo estampado no rosto do filho é algo imensurável. Vê-lo atracado às tetas da mãe chega a ser emocionante. Os “terroristas” de plantão estão sempre prontos a nos dizer que a experiência é boa, mas difícil, cheia de questionamentos, de incógnitas e desilusões. As preocupações existem, sem dúvida. Mas o que são elas, diante de tanto amor?

 

Com a existência do filho (ou filha) nós, homens, nos tornamos mais humildes e aprendemos a ser filhos melhores. Como pais, ficamos inertes diante da aliança materna, forte e indestrutível. Aliás, nada se aproxima mais do Criador do que a mulher: a ela foi dado o dom de gerar outra vida. Nove meses carregando o filho dentro do ventre, depois mais outro tanto amamentando, é “concorrência desleal” com o pai. Mas a gente aceita esse papel com a maior das resignações. No filme da vida, também é possível ganhar o Oscar de melhor ator coadjuvante.

 

Quando Deus, para comprovar a fé de Abraão, mandou que ele matasse seu amado filho Isaac, sabia bem o que estava fazendo. Nada pode ser mais forte do que o amor que os pais sentem por um filho. Ainda assim, inexplicavelmente, são muitos os relapsos, distantes, que parecem não sentir o prazer e a responsabilidade de sua condição.

 

Hoje se discute sobre a questão do controle de natalidade, por conta da superpopulação, e a legalização do aborto. O cerne dessa discussão, por óbvio, é a decisão de ter, ou não, filhos. Em nome da liberdade – princípio garantido em nossa Constituição – sou a favor das escolhas pessoais. Cada um deve decidir o que é melhor para si, sem interferências e sem prejudicar os outros. Para quem, como eu, já pensou em não ter filhos, posso dizer com propriedade: se puder, leitor, tenha ao menos um.

 

Aos céticos, o filho traz crença. Aos brutos, traz calma. Aos indiferentes, sentido. Aos egoístas, solidariedade. Aos arrogantes, humildade. Aos mortais, eternidade. E aos livres, traz clausura. Fica-se preso a um sentimento indescritível, a expectativas e sonhos, a todo tipo de probabilidade e ao medo do amanhã. Mas, quer saber? Se ser mãe é padecer no Paraíso, ser pai é renascer dentro de um cárcere, cuja grade é feita de amor. É estar condenado à prisão perpétua da felicidade.     

 

 

 

*Dídimo Heleno Póvoa Aires advogado, membro das Academias Palmense e Tocantinense Maçônica de Letras.

 

 

       

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