70 Anos em breve retrospecto

 

 

DÍDIMO HELENO PÓVOA AIRES*

12/10/2008  

A história de PÉRICLES JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA, assim como a do nosso País, teve início na Bahia, mais precisamente na cidadezinha de Santana do Catão, no longínquo ano de 1915, quando nasceu Stelita Alves, mais tarde conhecida por Stela Póvoa, sua mãe.

 

Sempre que vem ao mundo uma mulher, nasce com ela a perspectiva de que uma família será construída. E o destino quis que a jovem Stela viesse morar em Dianópolis, quando conheceu o também jovem Pery Póvoa. Dessa feliz união nasceram dez filhos, sendo PÉRICLES o primogênito.

 

Ativo e trabalhador desde a adolescência, PÉRICLES foi e é um jovem que viveu e vive a vida com intensidade. Naquela época, suas estripulias de menino e adolescente não passaram despercebidas, atividades essas que contaram com a parceria de Peryzinho e, depois, Candinho, entre outros. De amarrar osso na ponta do badalo do sino da Igreja para atrair os cachorros famintos a fazer jumento ficar de pé sobre um monte de tijolos, de tudo PÉRICLES fez um pouco. Ou quase tudo, para não comprometer de vez a reputação do aniversariante. E também não diremos aqui, de público, que o seu apelido era “chacolateira”, espécie de chaleiras de flandre, que eram fabricadas por ele e vendidas pelas ruas da cidade.

 

Àquela época ele não aceitava passivamente a alcunha e, justamente por isso, Candinho e “comparsas” ao avistarem PÉRICLES de namorico com uma moça de família tradicional da cidade, em plena praça, não perderam tempo e começaram a anunciar aos quatro ventos o nome proibido. A donzela, intrigada, quis saber quem era o tal “chacolateira”. O empertigado e intranqüilo mancebo fingia que não era com ele, mas os seus “algozes” não deram trégua. Quando passava a mão sobre os cabelos da moça, eles gritavam: “Passando a mão no cabelo dela, não é chacolateira?” Quando segurava a mão da rapariga, ouvia: “Segurando a mão dela, não é chacolateira?” Não demorou muito para que a jovem percebesse que estava diante do próprio “chacolateira”. E assim continuou o martírio, até que a injustiçada vítima, suando frio, livrou-se da moça e jurou de morte os malandros, que se puseram a correr e rir gostosamente do seu embaraço, riso esse que atravessou gerações.

 

Mais tarde, quando conheceu a jovem Lêda, uma das mulheres mais belas da cidade, o seu pai, responsável e cônscio de seus deveres, homem que empenhava o fio do bigode, tratou logo de alertar o Sr. Totó, futuro sogro do rapaz, sobre as não tão favoráveis perspectivas que se abriam à moça, ante a irreversível proposta de casamento que se noticiava.    

 

De pouco adiantaram tais preocupações. Os jovens apaixonados se casaram e, juntos, enfrentaram intempéries e todo tipo de dificuldade, agravadas pela precariedade da época, mas souberam superar as adversidades e constituíram uma das famílias mais sólidas da cidade de Dianópolis.

 

Tiveram sete filhos. O primeiro, William, faleceu ainda no despertar da vida, com apenas cinco anos de idade, acometido da então fatal poliomielite, a famigerada “paralisia infantil”. A perda de um filho, talvez a maior dor que um homem possa sentir, de certa forma antecipou o amadurecimento do ainda moço PÉRICLES, forjando o seu caráter e permitindo-lhe atitudes sempre pautadas pela retidão.

 

A vida lhe ensinou da forma mais brutal a seguir em frente, de cabeça erguida. A partir dali o jovem dava lugar ao homem. A sociedade dianopolina ganhou um dos seus mais ilustres representantes, a Maçonaria um dos seus mais dedicados membros e o ainda Consórcio Rodoviário do Estado de Goiás, hoje DERTINS, um dos seus mais competentes e fiéis servidores.

 

Antes de tudo, é preciso falar do homem PÉRICLES. Antes, ainda, é preciso falar do filho, do irmão e do pai, figuras que bem delineiam a sua personalidade pujante. 

 

Filho dedicado permaneceu ao lado do genitor até os últimos dias de sua efêmera vida. Foi PÉRICLES que, por diversas vezes, lhe aplicou injeções para amenizar as dores terríveis causadas pelo câncer devastador. Acompanhou o definhar, o esvair da vida do homem a quem mais admirava e amava.

 

Com a morte do pai, nasceu para aquela família um novo baluarte, uma nova referência. Para os irmãos, todos mais jovens, passou a ser o “paim Péricles”, o “dindin Péricles”. Filho amoroso, não passava um dia sequer sem visitar a mãe adorada, tomar-lhe a bênção e degustar o seu cafezinho sempre pronto e quente, rotina que durou enquanto ela viveu. Nessas ocasiões fazia uma “boca-de-pito”, iniciando ali o consumo de quase quatro carteiras de Hollywood por dia, vício que superou de há muito. Em 1989, atendendo a um chamado urgente do Criador, Stela Póvoa partiu rumo à sua eterna missão celeste. 

 

Mas o perseverante PÉRICLES tinha uma família grandiosa para cuidar. Grandiosa em todos os sentidos. Deus ainda lhe presenteara com seis filhos: Alba, Soraya, Cássia, William, Pekin e Pery. Estes filhos lhe deram outros: Jaimim, Paulo, Seno, Simone e Dájla, que, juntos, lhes deram outros mais: Rafael, Guigo, Ana Cláudia, Marina, Kelson, Marcelo, Paula, Paula Dantas, Breno, Felipe, Thalita, Raíssa, Yasmin e Bruna. E estes, certamente, lhe estenderão a prole por muitas outras gerações.

 

PÉRICLES é um vencedor! Não se mede o valor de um homem pelos bens materiais que possui, mas pelo caráter, pela honra e dignidade. Construir uma vida como a dele é para poucos. Um homem que passa pela vida sem nódoa, sem mancha, sem qualquer deslize que possa colocar em dúvida a sua hombridade, é tarefa das mais árduas e raras. Cometeu erros, é verdade. Erros esses inerentes à falibilidade humana, porém incapazes de lhe arrefecer o cabedal de virtudes.

 

E um homem não caminha só. Nos mesmos degraus que pisaram os seus pés, pisaram os de Lêda, sua fiel e dedicada esposa há mais de cinqüenta anos. É popular o ditado que diz: será bom marido e bom pai quem tenha sido ou é bom filho. No seu caso, o adágio se confirma.

 

E PÉRICLES é pai de muitos filhos, até dos que não teve. Além de genitor dos de sangue, supriu a figura do pai que cedo faltou a seus irmãos e irmãs. Para muitos sobrinhos, substituiu a figura do avô, para muitos netos é avô e pai. Em torno de si gira uma grande prole, um grupo de pessoas que aprende com os seus exemplos, sua perseverança, seu caráter e com o seu espírito sempre jovial, exalando sabedoria e amor à vida.

 

E PÉRICLES é daqueles homens que se entregam de corpo e alma a tudo que fazem. Como servidor do CRISA e, agora, DERTINS, órgãos aos quais se dedicou e dedica há mais de 35 anos, fez muito mais do que suas funções lhe permitiram. Funções essas – diga-se de passagem – que por vezes estiveram aquém de sua capacidade, já que se mostrou maior do que os cargos que ocupou e ocupa. Esteve sempre à frente de seu tempo e, como acontece com freqüência em sua vida, no ambiente de trabalho também passou a exercer a figura de pai para muitos dos funcionários.

 

Líder nato, na Loja Maçônica Fraternidade e Justiça de Dianópolis,      exerceu o cargo de Venerável-Mestre por sete vezes, talvez um recorde nacional. Suas gestões foram todas pautadas por muito trabalho, dinamismo e espírito empreendedor. Um dos seus mais destacados feitos, entre tantos, foi a construção deste Clube, onde hoje se comemora os seus setenta anos de vida. Utilizando-se de seu prestígio e reconhecida capacidade de administração, conseguiu a doação de cada tijolo, cada saco de cimento e cada vergalhão que compõem esta obra. 

     

O homem PÉRICLES é a reunião de tudo isso, de todas essas vertentes, sobre as quais construiu o seu caráter. Na intimidade, é um bonachão, exímio contador de causos, amoroso, detentor de sólidas amizades, figura exemplar para aqueles que têm ou tiveram o privilégio de desfrutar de sua convivência.

 

Cada minuto de sua existência é vivido com intensidade. Homem de muitos atributos teve a brilhante idéia de organizar um museu em sua residência, sem esperar que o Poder Público tomasse a iniciativa, como fariam os acomodados. Num espaço de sua casa, reúne objetos das mais diversas épocas de nossa cidade, materiais históricos resgatados por ele para levar ao conhecimento da posteridade. 

 

Na sua idade, que para muitos é o encontro definitivo do corpo com a poltrona, mais uma vez arregaçou as mangas e encarou um trabalho que até para alguns jovens adolescentes não seria possível, e foi trabalhar na empresa TOCTAO, ele mesmo dirigindo um veículo todas as madrugadas, encarando uma estrada sem asfalto, acumulando poeira nos vincos de sua face de menino, nas suas rugas construídas ao longo da vida muito mais com sorrisos do que com tristezas. E assim permaneceu por alguns meses, enquanto puderam dispor de seus imprescindíveis serviços.

 

PÉRICLES é um homem generoso! Sua vida é um constante fazer, servir, construir, refazer, ajudar, acolher. À frente da Loja Maçônica, foi protagonista de muitas iniciativas em prol do bem-estar de nossa sociedade, da preservação dos bons costumes e da manutenção da família, da moral, da ética e da fraternidade.

 

“Neném”, como é carinhosamente tratado pelos mais íntimos, é uma criança de coração pulsante. Um homem que tem projetos para o futuro, um homem que olha para o passado com orgulho e com a inestimável sensação do dever cumprido. Um homem que não se dá por vencido. Um homem que escolheu viver ao lado do bem. Um homem que, aos setenta anos, faz qualquer adolescente se ruborizar ante sua vitalidade e alegria de viver, capaz de ensinar através de gargalhadas gostosas, de um olhar carinhoso e de palavras reconfortantes.

 

PÉRICLES é um guerreiro, um dos nossos melhores soldados. De onde vem tanta alegria de viver? De onde vem tanto vigor? Segundo o próprio, da pimenta malagueta, sua companheira das refeições de todos os dias. Ou do reforço alimentar que toma todas as manhãs, numa mistura que inclui frutas, legumes e outras guloseimas. Ou das caminhadas diárias. Ou da indefectível rapadura após o almoço.

 

Mas é preciso discordar. Sua alegria de viver não vem apenas da malagueta, do complemento alimentar ou da postura que mantém diante da vida. Tudo isso tem como princípio o seu sólido caráter, sua consciência sempre leve. Seu vigor vem da energia que só os homens íntegros são capazes de acumular. A vontade de viver nasce lá na foz do seu coração, que só abriga paz e harmonia. A perseverança vem da linda família que construiu, da esposa altiva que o acompanha e dos amigos diletos que conquistou.   

 

PÉRICLES é um grande homem, na mais pura acepção da palavra! Para seus filhos é um porto seguro, onde podem atracar, esperar as águas revoltas passar, a tempestade arrefecer e seguir a viagem da vida com segurança e tranqüilidade.

 

Aos setenta anos, esse jovem ainda é capaz de surpreender. Ao abrirmos o Jornal pela manhã, não raro nos deparamos com alguma aula de vida por ele ministrada, através de artigos muito bem talhados, que trazem sempre uma lição a ser aprendida e apreendida por todos os seus leitores, das mais diversas idades e camadas sociais. Tal versatilidade é compatível com sua inteligência. 

 

Hoje, ao invés de parabenizarmos PÉRICLES por mais um ano de existência, seria mais correto nos auto-felicitarmos por fazermos parte de sua vida, direta ou indiretamente. Os agraciados somos nós.  E o nosso desejo é que ele esteja aqui por muitos e muitos anos, nos ensinando a viver! 

 

Que o Grande Arquiteto do Universo o ilumine sempre!

 

 

*Dídimo Heleno Póvoa Aires advogado, membro das Academias Palmense e Tocantinense Maçônica de Letras.

 

 

       

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