O FILHO DA CASA DOS PÁSSAROS

J. Alencar Aires*

quem teria tempo de estender as mãos
e tocar o pulso destes versos
e fitar o rosto destes versos
e com uma fração qualquer de sinceridade
dizer apenas: nada posso fazer meu filho
se todas as brochuras te esperam
para matar-te de silêncio!
quem teria tempo de entender
a família destes versos
a labuta triste destes versos
a humildade rude deste menino
que foi brincar de ser um pássaro
e se perdeu nas mãos dos homens
como uma pedra que não cansa
de chorar o seu retorno!

quem pousaria os olhos nesta dor
que vem dos olhos simples destes versos
que vem da clave muda destes versos
para entender o reino deste menino
primo da música e das abelhas
filho do tempo e do etéreo
filho das coisas que em silêncio
canta para ser eterno!

quem roubaria uma só palavra
de seus olhos, de sua boca
para a velhice destes versos
e no funeral deste menino
inscreve apenas:
Aqui jaz os restos mortais
das coisas simples
deixou como parentes: as flores,
as formigas e as fontes
residia no colo dos coqueiros
era filho da casa dos pássaros.

 

*Poeta, escritor, músico e compositor

       

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