FOZ DE MINHAS IDÉIAS

 

J. Alencar Aires*

 

Minha vida tem raízes estranhas!
sempre me flagrei surpreso
são determinados sustos...
nunca procurei razões que se ocupem
de entender o que nunca fui
permiti a mim caminhar meus caminhos
soletrar meus próprios erros
na foz de minhas idéias
no ermo de meus sonhos

quem de si se encoraja
de entender-me um pouco
decifrar meus rumos
subentendidas formas
de eu viver minha vida!

quem entenderá que sofro
que me vendi ao diabo
que meu diabo é deus
que sou fraco e forte
que sou velho amigo
de mim mesmo e muito
e quando posso eu peço
a natureza minha
que me dê tristeza
pra suportar a vida
esta alegria demais!

quem deterá o fluxo
de meus corsários sonhos!
quem chegará cantando
que amei na vida
que roubei segredos
que matei um Deus!

quem me acordará cantando
na madrugada minha
uma canção na cara
e quem passará por último
e sorrirá depois
que eu entender chorar!

quem me permitirá
um consolo terno
que me abrace e vença
o medo de ao meu lado
se misturar de mim!
 

e que apesar de tudo
fique triste e simples
escutando o tempo
pelas mãos da gente
consumir-se em vida!

quem ao meu lado é forte
sem temer a lama
que me atiraram em cima
e tocará meu rosto
e tomará perdão
compreendendo o fel
da bruta boca alheia!

quem sorrirá comigo
um certo ressurgir
da alma e do meu corpo
e vê que sou bem novo
e vivo uma certeza
ilimitadamente...

e quem me esperará
que só eu me espero
e me acompanho e luto
pro amanhã de ser
uma outra nova busca
incansavelmente...

quem entenderá
de que sou feliz
pra avaliar o mundo
que me mata dentro
quando a permissão
de um sentimento quebra
e quando a afirmação
de um outro amor se cala
restando só a verdade
absolutamente...

quem em noite fria
desperta de um calor
trazido da vontade
de ser grande e louco
e se volta lento
machucado e forte
retomando um sono
e voltando ao mesmo sono
incompreensivelmente...
 

*Poeta, escritor, músico e compositor

       

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